Mídias sociais: o grande palco narcísico do milénio
Por Cristina Cabral*
Espelho meu, espelho meu, quem é mais bela(o) do que eu? Quem não se lembra da frase da madrasta má da história da Branca de Neve e os Sete anões? Uma bruxa maligna obcecada pela sua própria imagem, que utiliza a magia como ingrediente principal de manipulação de sua beleza, e tem uma inveja doentia da Branca de Neve.
Nos dias de hoje, as poções mágicas e feitiços foram substituídas pela internet e a grande explosão das redes sociais, que tem enfeitiçado a população global.
As redes sociais vencem as limitações do espaço e tempo em fracção de segundos. Com a ajuda mágica de filtros e aplicativos de beleza, muita luz, ação e um bom celular, milhões de influenciadores hipnotizam os visualizadores na aventura em fazer a melhor publicação.
Diferenças não são mais admiradas, mas o que vale é imitar as tendências e aproximar-se ao corpo perfeito de celebridades como a Kim Kardashian e imitar coreografias de dança da Shakira e Jason Derulo no Tiktok.
As redes sociais iniciaram um culto de obsessão pela imagem perfeita, criando um palco virtual de narcisismo, desesperados pela necessidade insaciável de validação gostos e partilhas.
A social media tem varias vantagens tais como a de criar um número ilimitado de amigos num curto espaço de tempo, mas também e um espaço que apresenta inúmeros benefícios especialmente nas questões de injustiça sociais, e é voz ativa em campanhas de luta ativista contra o racismo, movimentos LGBTQ+.
Mais do que isso é uma forma de viajar pelo mundo, especialmente neste momento em que estamos a viver a pandemia de Covid-19. A social media virou uma forma de comunicação, ferramenta de trabalho e tela de entretimento.
Mas o que é a famosa palavra narcisismo que todo o mundo fala?
Narcisismo tem origem da mitologia grega, onde o carismático e encantador Narciso se apaixona pelo seu próprio reflexo na água, e morre admirando a sua própria beleza.
A ciência que estuda o narcisismo é a psicologia e foi considerado um traço extremamente negativo e disfuncional desde a história da civilização até aos tempos modernos.
De acordo com a organização Depression Alliance’s, os oito narcisistas mais famosos do mundo são: Joan Crawford, Kanye West, Kim Kardashian, Mariah Carey, Madonna, Donald Trump, Jim Jones e Adolf Hitler.
O professor Pedro Calabarez, especialista em psiquiatria e psicologia médica, defende que navegar pelas redes sociais é como ir a um mercado global de egos, em que cada banca oferece as melhores e mais fascinantes obras-primas em troca de sua alma.
Porém, tudo o que é em excesso acaba por se transformar numa anormalidade, e as mídias sociais têm sido uma arma fatal, um perigo iminente onde pessoas vulneráveis e co-dependentes emocionais tentam disfarçar suas realidades diárias e procuram desesperadamente validação como uma maquiagem para disfarçar os horrores causados pela depressão, violência doméstica, traições, desordens alimentares, através de filtros de beleza.
O cyberbulying tem sido também a maior arma destrutiva dos adolescentes e adultos que diariamente são apedrejados e torturados com ofensas e tormentos, acabando por levar lhes ao limite de suas forças e muitos acabam por usar o suicídio como o recurso final de alívio para a dor da rejeição virtual.
Consequentemente, a falta de amor-próprio acaba por atrair, o interesse de narcisistas obcecados por suprimento e energia humana, e que necessitam de admiração constante para alimentarem seus falsos egos.
Os grandes narcisistas da social media tendem por ser personalidades, com muitos visualizadores, que têm sede de poder, são egocêntricos obcecados pela sua imagem e por selfies, e tem um sentido de grandiosidade de que nada nem ninguém é melhor e sabe mais do que eles, falam muito na primeira pessoa como se fossem a solução para os problemas globais do planeta Terra.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, entre 0,5 e 1% da população em geral (entre 30 a 75% dos homens) sofre de Transtorno de Personalidade Narcísica, também conhecida como Narcisismo.
Narcisistas são mestres em manipulação e vivem de uma falsa imagem fabricada, para mostrar a seus seguidores de que são os melhores em tudo o que fazem, maridos e esposas perfeitas, ativistas, pais exemplares, personal trainers, a lista ė longa.
A campanha de marketing narcísica e propositada para colocar seus visualizadores em cativeiro. Narcisistas em geral têm vidas duplas, têm vários relacionamentos em simultâneos e criam várias máscaras para cada pessoa. Existe a velha expressão de que lavar roupa suja, lava-se em casa, mas para o narcisista as redes sociais são um palco constante de campanhas de difamação de caráter de outras pessoas e muitos incentivam o ódio e discórdia.
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, é conhecido por vários artigos na mídia como um dos maiores narcisistas de todos os tempos, sendo comparado com Hitler em várias ocasiões. Trump era mestre em difamar e aterrorizar jornalistas e outras celebridades, e Twitter e Facebook eram as suas redes sociais de ataque.
Narcisistas adoram colocar fotos a denegrir a imagem das pessoas, escrevem longas publicações nas redes sociais, fazem vídeos diretos com insultos e ameaças, exigem ajuda financeira para fins comunitários e humanitários, e imploram pela atenção de seus seguidores.
Existe uma oscilação entre dois aspectos da personalidade, por um lado o narcisista sofre de grandiosidade, mas ao mesmo tempo de hipersensibilidade e não consegue lidar com críticas e ser contrariado.
Hoje em dia é muito difícil diferenciar heróis de vilões, mas o que você tem de se lembrar é que são as suas diferenças que fazem o mundo tão especial e que o narcisista é um ser vazio que vive de sua energia.
Se ame, se cuide, se valorize por você e não pelos outros, porque o seu brilho é único.
Seja o seu único filtro, e seu verdadeiro amor, e utilize as mídias sociais com moderação.
* Cristina Cabral é uma cabo-verdiana londrina. É jornalista multimídia e realizadora, mestre em Diversidade e Mídia, professora de estudos culturais e mídia.
Teste: você é nascisista?
A psicologia indica que a presença de 5 ou mais padrões comportamentais abaixo indicados sugere que uma pessoa possa ser narcisista patológica. Você se identifica com alguns desses padrões?
1. Sensação exagerada e infundada da sua própria importância e talentos (grandiosidade). Espera ser reconhecida como ser superior.
2. Preocupação com fantasias de realizações ilimitadas, influência, poder, inteligência, beleza ou amor-próprio.
3. Convicção de que é uma pessoa especial e única e deve associar-se apenas com pessoas do mais alto calibre.
4. Necessidade de ser incondicionalmente admirado.
5. Sensação de merecimento.
6. Exploração dos outros para alcançar objetivos próprios.
7. Falta de empatia.
8. Inveja dos outros e convicção de que outros a invejam.
9. Arrogância e altivez.
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