2021, o ano que precisa existir

Fernando Rebouças*

No ano de 2020, tivemos pandemia, terremotos, atentados, crises sociais e destruição da natureza. O ano de 2020 não foi, nem de longe, o ano idealizado em 2000 pela ONU (Organizações das Nações Unidas) como o ano para o cumprimento das metas básicas a favor da sociedade, educação e saúde.

Mas, considerando a recente história, entre os anos de 2015 e 2020, o mantra coletivo veiculado e repetido nas mídias (e nas principais mesas de negócio) anunciavam o surgimento de um mundo hiper automatizado governado pela inteligência artificial, mantido com plenos mercados  e aplicações na bolsa de valores, incluindo forte redução nos gastos públicos com aposentadorias,  direitos trabalhistas e até na área da saúde.

Porém, o ano de 2020 foi alvo de um vírus logo batizado de coronavírus  que, além de causar a gripe Covid-19, forçou empresas a reavaliarem seus sistemas de trabalho, incentivou governos que antes congelavam gastos a gastar mais com sistemas de saúde e com as pessoas, expondo um evento ecológico, social e econômico ao vivo e em cores nunca antes vistos pela atual geração humana.

O vírus é um agente biológico que através de diferentes tipos de eventos ou condições ambientais pode desencadear doenças em diferentes espécies vivas, além de epidemias e pandemia na humanidade. Por ser um agente biológico, não temos o poder de apertar um botão para desligá-lo, pelo simples fato de não ser um “agente mecânico” ou “químico” criado por nós.

Apesar de todo o projeto para a década de 2020 composto com a automatização robótica  das economias, reorganização do trabalho na sociedade e dos cortes de gastos planejados pelos principais governos do mundo, o vírus chegou nos obrigando a salvar vidas às pressas e forçou a humanidade a repensar os seus projetos abrindo um novo debate sobre quais tipos de economias, trabalho e tecnologia que nós, seres humanos, precisamos para convivermos em harmonia com a natureza e com todas as suas funções biológicas.

Dentre todas as lições que a humanidade está aprendendo com a pandemia, a mais difícil será a de respeitar a natureza, o próximo e a capacidade de construirmos mais pontes e menos muros para um ajudar a sociedade civil dentro da possibilidade de cada um.

Talvez, o ano de 2021 ainda não seja um ano pós-pandêmico por completo, tudo dependerá da eficácia e da segurança das vacinas, além da capacidade de existir uma imunização quase plena. Sabemos que os impactos econômicos, sociais e as seqüelas na saúde humana estarão mais presentes a partir de 2021, o mundo, mesmo se recuperando, nunca mais será o mesmo…Por enquanto, o que sabemos é que o ano de 2020 (o ano que não existiu) foi adiado para 2021, ou foi extinguido por um agente biológico. O ano de 2020 foi contaminado.

Entramos no ano de 2021, aprendendo que o ser humano não está no controle de tudo, aprendemos que todos nós somos mortais e carentes de quase tudo.

* Fernando Rebouças é desenhista, publicitário e editor. Autor dos quadrinhos do Oi! O Tucano Ecologista (www.oiarte.com) e de Scriptah (www.scriptah.oiarte.com).

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