Portugal democracia apodrecida

Por Manuel Gomes*

Chega a ser angustiante viver fora de Portugal e assistir ao que acontece por lá.

As raias de corrupção grassam nas entranhas dos carreiristas políticos que insistem que o povo não precisa de informação.

São pessoas que cometem alegados crimes de colarinho branco que sofrem de esquecimento e impunemente escapam tanto da cadeia como do manicômio.

O povo fala, fala e fala mas nada diz. Suporta estoicamente o prejuízo e paga, paga e paga. E volta a pagar seja através da carga fiscal, seja através do voto-vassalagem que nada questiona e tudo aceita sem qualquer tipo de ação prática que possa inverter o crescimento de uma crescente dívida que ficará de herança para filhos e netos. No mínimo, uma barbaridade.

São bancos que falem, empresas que não pagam impostos, empresários que se dispensam de pagar as suas dívidas aos bancos que são convertidas em dívida de todos nós. Que povo estranho este que se esqueceu da glória da sua história e dos pergaminhos da herança que recebeu dos seus pais e avós.

Um povo que adormeceu a coragem nos colchões da corrupção e dos carreiristas políticos que começaram as suas carreiras ainda jovens para se retirarem com chorudas reformas que ninguém contesta com apenas uma parcela mínima de tempo de serviço. Pelo menos no lugar certo.

Voltamos a uma esquina, à mesa de um café ou restaurante e desancamos no Governo e na Oposição e regressamos a casa com a noção inútil de um dever cumprido na sombra da inércia.

Visto a partir do Reino Unido, sobre a vergonha das notícias que vamos tendo. Bancos que vão à falência e que dão lugar a bancos novos já falecidos antes de abrirem as portas e as contas, não param de chegar.

A correção passa pela esperança na juventude a quem não temos sabido ensinar o que significa Democracia e como funciona. Quase uma esperança inexistente, oca de valores num vácuo de dívidas que ninguém sabe quantificar.

Falam de milhares de milhões numa linguagem técnica criada para não ser entendida para que a informação se torne escassa. E mentem. Mentem com os dentes todos da boca e da boca de cada cidadão que por sorte ou azar, está obrigado ao registo de um número de contribuinte que serve apenas para escoar as nossas economias no resultado de muitos enriquecimentos ilícitos.

Um povo que chora e não acorda.

Quem vier atrás feche a porta. Filhos, netos e se possível bisnetos. Que rica herança estamos a preparar para quem nos vai lembrar das letras da História.

* Manuel Gomes é jornalista e escritor português a viver em Londres.

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