Brasileiros planejam nova jornada de ajuda humanitária

A comunidade brasileira continua empenhada em ajudar os refugiados ucranianos. O mesmo grupo que enviou uma van cheia de doações em meados de março organiza agora um comboio de ajuda humanitária. “Vamos em quatro vans”, anuncia Edvaldo Harger, que está organizando as doações. “Estamos arrecadando ainda, por enquanto tem pouco.”

Acampamento em Zosin, vilarejo a 50 metros da fronteira com a Ucrânia

No dia 15/03, Roney Lopes, Adriano Borges e Hallan Scarabelli partiram de Londres com destino à Polônia. Em Varsóvia, Adriano se juntou a outros dois brasileiros (Katia Bacchiega, do canal @entrebrasucas, e Fábio Prezinhas). Roney e Hallan seguiram viagem para a Ucrânia (leia mais no próximo artigo).

Adriano, Katia e Hallan trabalharam em um acampamento em Zosin, um vilarejo a 50 metros da fronteira com a Ucrânia. “Enquanto estivemos lá, ajudávamos a fazer sopa, lavar as panelas e tentamos dar conforto para aquelas pessoas que chegam muito assustadas”, conta Adriano, que em Londres já atua na área de assistência social e estuda social work na Canterbury University.

“É um trabalho muito delicado. Chega gente toda hora, algumas vezes os ônibus param, mas as pessoas não podiam descer, então entregávamos os sanduíches ao motorista. Alguns chegavam andando. Vi um numa cadeira de rodas”, conta.

Adriano explica que aquela região é extremamente rural. Não tem transporte público ou táxi e muita gente precisa esperar nos acampamentos por caronas. A cidade mais próxima está a 40 quilômetros de distância. O que mais as pessoas sentem falta por lá é transporte.

Sem transporte público ou táxi, refugiados passam horas a espera de carona – cidade mais próxima está a 40 quilômetros de distância

“Eu gostaria de fazer um alerta: brasileiros, não entrem na empolgação de pegar um carro e ir, claro que pode dar certo, mas é muito arriscado. Se o carro quebrar em uma estrada, por exemplo, não há nada por perto. Não tem um posto de gasolina, um hotel, nada. E dormir no carro não dá porque faz muito frio”, diz Adriano.

Por sorte, os três brasileiros conseguiram hospedagem em uma casa de família a 50 quilômetros do acampamento.

O Itamaraty, via consulado do Brasil, desaconselha deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país (leia box).

Do que precisam os ucranianos

De volta à sua casa em Londres, Adriano diz que a experiência de ter passado uma semana em zona de guerra o modificou como pessoa. “Antes de ir, estava achando que as coisas não estavam funcionando bem. Voltei mais motivado a trabalhar por mim e por minha família.”

A decisão de ser voluntário em um acampamento de refugiados não foi fácil. Adriano precisou superar a reação da filha Vitória, de 15 anos, que chorou quando ele deu a notícia da viagem. “Preferi nem avisar à família no Brasil.”

Se a guerra se prolongar, Adriano não descarta a possibilidade de voltar lá. Mas, da próxima vez, ele pensa em se inscrever para trabalhar com a Polska Akcja Humanitarna (pah.org.pl). “Você paga seus custos e eles facilitam a questão da hospedagem, você trabalha com expedientes e tem o suporte de pessoas de lá, que conhecem a região.”

Bisneto de poloneses, Adriano guardará na memória imagens como a que registrou em vídeo: uma garota tocando seu violino no acampamento. “Ela havia chegado naquele dia com sua mãe. Trazia uma mochila e seu violino. O pai e o irmão ficaram na guerra”, recorda.

Garota ucraniana toca seu violino no acampamento: pai e irmão ficaram na guerra

Há várias maneiras de ajudar os ucranianos nesse momento. Councils e centros comunitários estão organizando campanhas de arrecadação de donativos, assim como igrejas, escolas. Para contribuir com a campanha de arrecadação da comunidade brasileira, entre em contato com Edvaldo Harger no telefone +07465802228.

Itamaraty desaconselha ida de brasileiros

A ida de brasileiros por conta própria para a Ucrânia é desaconselhada pelo Itamaraty, como confirma nota enviada pelo consulado-geral do Brasil em Londres. Leia abaixo.

“O governo brasileiro tem envidado muitos esforços para apoiar o povo ucraniano, bem como os brasileiros que vivem no país.

No início do mês de março, foi enviada uma doação em caráter de cooperação humanitária e emergencial, que incluiu nove toneladas de alimentos e meia tonelada de insumos essenciais e itens médicos, que totalizam aproximadamente 20 mil itens doados pelo Ministério da Saúde. Além disso, foi regulamentada a concessão de visto temporário e autorização de residência para nacionais ucranianos e apátridas que tenham sido afetados ou deslocados pelos eventos no território ucraniano.

Para assistir aos brasileiros na região, o Itamaraty estabeleceu uma força-tarefa, que já organizou com o Ministério da Defesa um voo de repatriação, e abriu dois postos de atendimento consular: na cidade de Lviv, localidade próxima à fronteira com a Polônia para onde se tem dirigido grande fluxo de nacionais brasileiros; e em Chisinau, capital da Moldávia, a fim de facilitar a assistência a brasileiros que buscam a saída da Ucrânia via Romênia. Os postos de atendimento em Lviv e Chisinau complementam as medidas já em curso de apoio aos brasileiros, de confecção de documentos de viagem e de retirada, ordenada e segura, de nacionais do território ucraniano. 

Recomenda-se aos brasileiros remanescentes na Ucrânia contatarem o escritório consular em Lviv pelo telefone +380 95 8767664. A Embaixada em Kiev continua transmitindo orientações por meio de mensagens em grupo do aplicativo Telegram (https://t.me/s/embaixadabrasilkiev).”

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