Gigi Jones lança o livro de auto ficção “A Stripper”

O ano era 1996. Gigi Jones desembarcou em Londres com 26 anos, pouco dinheiro e vontade de aventurar-se. No Brasil, trabalhou como professora e secretária, mas aqui na Inglaterra logo percebeu que precisaria descobrir novas formas de geração de renda.

“Decidi por Londres porque conhecia um primo distante que estava morando na cidade e pensei que ele poderia me ajudar, mas a realidade foi diferente”, conta a autora do livro A Stripper (Chiado Editora, leia o capítulo 1 no box), o primeiro de uma série de quatro que estão por vir. “Aqui conheci uma pessoa que fazia strip-tease e perguntou se eu queria tentar.”

O livro é uma auto ficção. “O que fiz foi adaptar a minha história, de quando cheguei à Londres”, explica a escritora, que faz parte do Connected Women Club, na seguinte entrevista.

“O romance da personagem principal do livro é fictício. Algumas das histórias paralelas são verdadeiras”, explica Gigi

Notícias em Português – A Stripper é uma auto ficção?

Gigi Jones – Algumas pessoas perguntam se meu livro é um guia ou uma biografia. Não é nenhum dos dois. O que fiz foi adaptar a minha história, de quando cheguei à Londres, em 1996. Em certos pontos, trata-se da minha vida, principalmente porque fui mesmo stripper nos primeiros anos na cidade.

Por que Londres?

Venho de uma família super tradicional, fui professora, depois trabalhei como secretária em uma agência de carros, mas eu queria me aventurar. Decidi por Londres porque conhecia um primo distante que estava morando na cidade e pensei que ele poderia me ajudar, mas a realidade foi diferente. Aqui conheci uma pessoa que fazia strip-tease e perguntou se eu queria tentar.

Como era ser stripper em Londres nos anos 1990?

É preciso contextualizar que aqui na Inglaterra performance de strip-tease é algo muito tradicional em, por exemplo, despedidas de solteiro. Hoje isso mudou muito, mas na época podíamos nos apresentar em muitos pubs e clubes. Sei de meninas que continuam atuando na área e as coisas ficaram mais difíceis. Eu trabalhava diariamente, do meio-dia às 2am, para uma agência que me mandava para pubs, clubes e restaurantes que tinham “function rooms”. Na época, a plateia era proibida de nos tocar. O risco que corríamos era de transitar muito tarde da noite, entre um clube e outro. Lembro que, naquele tempo, os clubes pagavam para as bailarinas se apresentarem. Hoje, ouvi casos de garotas que descontam de seus cachês uma taxa para o clube. Na época não havia muitas brasileiras, mas sei que agora há muitas.

Por quanto tempo seguiu na profissão?

Fiz strip-tease por cinco anos, até 2001 quando conheci meu atual marido no bar de um dos lugares onde eu dançava. Fomos morar juntos e ele preferiu que eu parasse. Também senti que era o momento, porque sempre quis ter filhos.

E como surgiu a ideia do livro?

Comecei a escrever o primeiro livro há dez anos. Sempre quis escrever um livro, mas não sabia que história contar, até que pensei em romancear a minha própria história. Durante a pandemia, decidi trabalhar mais o texto e o tornei mais picante e profundo. Quando me dei conta, tinha quatro livros escritos. A Stripper é o primeiro de quatro e o escrevi em um mês. Agora o estou traduzindo para inglês, com a ajuda do meu marido, inclusive.

Há histórias verdadeiras no livro?

O romance da personagem principal do livro é fictício. Algumas das histórias paralelas são verdadeiras. Precisei pedir autorização a três mulheres cujas histórias são citadas no texto. Os outros livros trarão uma continuação da mesma história de A Stripper. Sei que o título é dramático, mas a história é um romance.

O que mudou em você como pessoa depois de trabalhar como stripper?

Antes de chegar a Londres, eu estava inserida em uma família muito religiosa e julgaria uma profissão como essa. Aprendi a não julgar as pessoas, ou a julgar de maneira diferente. O que você faz para conseguir pagar as suas contas não o define enquanto pessoa.

E como sua família reagiu?

Minha família não gostou quando soube da minha profissão em Londres, mas é um assunto superado do qual não falamos a respeito. Toda família pensa que sua filha vai para europa trabalhar de babá ou cleaner. Meus parentes ficaram decepcionados, mas me entenderam. Quando o livro foi publicado remexeu tudo, mas ninguém toca nesse assunto do passado e eu prefiro assim. Dei um exemplar para minha mãe, mas ela preferiu não ler.

Foi, de certa forma, libertador escrever esse livro?

Escrever esse livro foi um ato de liberdade. É a história de uma mulher, mas que abrange muitas, todas. Tive muito cuidado ao escrevê-lo para não afetar ou magoar ninguém. Mas não se preocupem que este não é um livro de sexo masoquista como 50 Shades of Grey (livro de E. L. James).

A Stripper – Capítulo 1

Eu nunca, em possibilidade alguma, pensei que um dia chegaria até onde eu cheguei. Londres era apenas um sonho até agora. E ali eu estava, quem diria, que uma menina interiorana, ambiciosa e cheia de sonhos, conseguiria com a ajuda de um anjo, pisar na terra onde tudo podia acontecer.

A jornada tinha sido fatigante, eu estava muito nervosa, e como foi a minha primeira viagem de avião, eu não sabia exatamente como me proceder, ou se existia alguma etiqueta que eu deveria cumprir. Sem falar das turbulências durante a noite, que me deixaram mais apavorada ainda. A tal da ansiedade também não me permitia ficar tranquila. Eu não parava de pensar se o amigo de uma pessoa que eu mal conhecia, estaria no aeroporto me aguardando.

Eu não o conhecia, apenas vi uma fotografia dele que o meu amigo me mostrou uma vez. Na foto ele estava com um grupo de pessoas, e pela imagem, ele era de uma estatura baixa, magro, cabelos curtos e meio caracolados. E também me disseram que ele era gay, eu nunca tive problemas nenhum com a sexualidade de ninguém, e ele sendo homossexual não mudaria nada a minha opinião sobre a pessoa dele.

O nome do tal cara era Elmos. Um prenome meio peculiar, eu nunca tinha visto em minha vida ou conhecia ninguém com um antenome igual aquele. E a história dele era meio triste por sinal.

Ele foi criado numa família grande, mas numa religião muito estrita, o pronunciamento da palavra gay, era proibida entre os membros daquela doutrina. E para a família de Elmos, ele foi criado para se casar e ter filhos. Um ano atrás ele decidiu que a única maneira dele ser o que ele queria ser, era sair de casa, e assim ele fez. Todos sabiam sobre a sexualidade dele, inclusive os seus pais, mas ninguém se atrevia a discutir o assunto por medo, sei lá, de como a sociedade o julgaria. Infelizmente, era a realidade no mundo em que vivíamos. E claro, a sua família, no fundo não acreditavam que ele preferia o mesmo sexo.

Trecho de A Stripper. Gigi Jones, Chiado Editora

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