Brasileiros dirigem de Londres à Ucrânia para entregar doações a refugiados
Os brasileiros Roney Lopes, Adriano Borges e Hallan Scarabelli partiram de Londres no dia 15/03 em uma van carregada de doações arrecadadas entre brasileiros – aqui ficou Edvaldo Harger, que segue organizando o recebimento de mantimentos e donativos.
O plano era levar tudo até Varsóvia, capital da Polônia, a 1.700 quilômetros de distância. “Dias antes começamos uma campanha de arrecadação entre amigos. Recebemos muitas roupas e mantimentos, completamos a carga com comida”, conta Roney, já de volta à Londres onde trabalha como motorista.
Ao chegar em Varsóvia, Roney conta que viu refugiados sendo bem tratados e acolhidos pelos poloneses. “Prometemos que não cruzaríamos para a Ucrânia, mas decidimos nos aproximar mais da fronteira”, diz. Nesta etapa, Adriano continuou em Varsóvia. Roney e Hallan seguiram pela estrada que leva à Ucrânia.
O plano não era atravessar a fronteira, mas quando os amigos brasileiros perceberam, já estavam diante do cruzamento e sem chance de retorno. Ao entrar na Ucrânia, foram avisados que não poderiam dirigir após às 21h. Eram 19h. “Achamos que o melhor a fazer era encontrar um lugar seguro para passar a noite. Encontramos um posto de gasolina e ali estacionamos, para dormir na van.”
Naquela noite, a temperatura era de -4 graus. O aquecimento do carro não era suficiente. “Passamos muito frio nessa noite. Para não passar ainda mais frio, resolvemos separar as doações em sacolas. Montamos mini cestas com dois enlatados, dois garfos de madeira, duas águas, uma bolacha e um pacote de pão. Montamos cerca de 400 dessas.”
Na manhã seguinte, Roney e Hallan notaram uma senhora bastante comunicativa. “A gente se aproximou e perguntou se ela sabia onde estavam os refugiados de guerra, ela disse que ali eles não estavam, era apenas um lugar de passagem, mas se ofereceu a nos ajudar.”
Nathalia foi a ucraniana que guiou os brasileiros nessa jornada. Ela entrou em contato com um coronel do exército, que mais tarde foi apresentado à dupla. A seguir, o relato de Roney sobre essa experiência:
“Fomos encontrar o coronel do exército na primeira barreira militar, que fica no meio da cidade. Fomos até bem próximo a Belarus, onde encontramos muitos refugiados precisando de ajuda. Foi onde deixamos mais roupas, mantimentos e comida. De lá, encontramos com o coronel. O coronel foi na frente, nós o seguimos. Tinha um orfanato onde só a polícia podia entrar. Um orfanato apenas para rapazes de 12, 13, 14 anos. Saindo de lá, fomos no quartel do exército. Creio que neste local estavam presos pessoas que não queriam participar da guerra. Não posso te garantir, mas foi essa a impressão que tive daquele lugar, onde deixamos muitos mantimentos.”
“De lá fomos para a Cruz Vermelha, onde tinha muita gente na porta pedindo comida. Eles abriam a sacola na sua frente e comiam. Deixamos ali cerca de 150 sacolas. E, por último, fomos a uma delegacia e deixamos o restante. Mas o mais interessante foi na volta, quando a gente saiu da Ucrânia e fomos para um hotel ali perto, mas já na Polônia. De manhã, vimos que no saguão do hotel e na sala de eventos tinha muita gente, somente mulheres e crianças. Aí aconteceu algo muito bonito. Nós entramos em contato aqui na Inglaterra, as pessoas mandaram mais dinheiro, fomos no supermercado e compramos tudo que elas precisavam.”
Depois disso, os amigos brasileiros dirigiram todo o percurso de volta, mais 1.700 quilômetros de estrada (28 horas na ida e 25 horas no retorno).
“Agora de volta fico me sentindo impotente. A gente foi lá e fez um trabalho, mas penso que nem devia ter saído de lá. Aquelas pessoas estão precisando muito. Se eu pudesse eu voltaria hoje e ficaria lá até isso tudo acabar.”
Roney e Hallan estão organizando uma segunda jornada de ajuda humanitária, desta vez com quatro vans. Para contribuir, entre em contato com Roney pelo Instagram (@roney.london).
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