“Vivo tenso”, diz Juares da Silva, vítima de violência em Bournemouth
“Parei em uma esquina e a motorista desse carro já começou a me xingar e mostrar o dedo médio”, conta o motociclista. “Retomei meu trajeto e ela começou a tentar me fechar, dificultando meu acesso, ao ponto de eu bater um ombro um no carro dela e o outro no carro do lado.”
Mais 100 metros a frente, a motorista fechou o acesso de Juares e desceu do carro o agredindo, junto com outros três passageiros. “Lembro que revidei um soco, mas aí um grandão me socou o rosto e eu perdi os sentidos.”
Juares não tem dúvida de que foi um ato de ódio e xenofobia. “Deve ser uma questão cultural, mas os motoristas daqui não aceitam quando motociclistas fazem um corredor entre os carros, mas esse é um movimento autorizado aqui”, explica. “Ai junta o fato de a maioria dos motoboys daqui ser estrangeiro e esses que me atacaram ainda pareciam estar drogados.”
As ofensas no trânsito, como a tentativa de fechar o acesso do motociclista, foram filmadas pela CCTV, mas as agressões físicas não. Ainda assim, o policial que atendeu o chamado e encaminhou Juares ao hospital conseguiu seis testemunhas.
Juares ainda sente dores no nariz e nas gengivas. Ele perdeu um dente e tem um danificado, e aguarda agora os desdobramentos da ação policial.
“Como estou indo para o Brasil no final de janeiro, farei o tratamento dentário lá”, diz.
Manifestação em Bournemouth
Juares contra que essa foi a primeira vez que sofreu um atentando desse tipo em 13 anos de vida no Reino Unido, mas para muitos colegas de profissão, esse tipo de situação é mais comum.
Um grupo de profissionais de entrega por aplicativos fez um protesto em Bournemouth no sábado (06/11).
Dezenas de situações de xenofobia frequentes no trânsito em Bournemouth e Poole também foram relatadas por portugueses, brasileiros e outros latinos presentes na manifestação.
“Trabalho com entrega há quatro anos, já trabalhei em Londres e aqui a população não tolera a gente. Todos os dias sofremos fechadas, os carros aceleram atrás da gente. Hoje mesmo aconteceu comigo”, diz Diogo Merlin. “A gente anda como se a qualquer momento pudesse ser atacado.”
Juares conta que se sente mais tenso no trânsito depois do ocorrido, mas que não pensa em largar a moto, ao menos por enquanto. O curitibano que antes da Inglaterra viveu por onze anos nos Estados Unidos sem documentação e dirigindo carretas agora pensa em voltar para o Brasil.
“Nunca fiquei ilegal no Reino Unido, trabalho certinho como todos os motoboys que conheço justamente para evitar confusão, mas agora começo a pensar em voltar para o Brasil”, conta Juares, pai de dois filhos (um de 22 e outro de seis anos), ambos residentes no Brasil.
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