Aumenta transmissão de HIV entre imigrantes latinos
“A pesquisa diz que isso pode ser um indicativo de que a comunidade brasileira é grande em Londres, mas, para mim, também revela a importância da criação de conteúdo em português informando nossa comunidade”, explica Pedro.
O QMM foi criado justamente para derrubar as barreiras entre imigrantes de forma geral e o acesso à saúde sexual no Reino Unido. “É importante ressaltar que este dado não existe para criminalizar ou estigmatizar uma parcela da população”, diz Pedro, na entrevista a seguir.

Notícias em Português – O que é o QMM?
Pedro Lino – QMM é um projeto criado pela organização sem fins lucrativos The Love Tank cujo objetivo é oferecer suporte no acesso à saúde sexual pública, em Londres, a comunidades imigrantes. O acrônimo QMM significa Queer Migrant Men, ou homem gay migrante em português. Apesar deste recorte sugerir suporte apenas a homens gays, nós acolhemos pessoas imigrantes independente de sua sexualidade ou gênero. Para o projeto criamos um site com informações sobre o acesso à serviços como teste de HIV e DST, PrEP e PEP, tratamento para HIV e DST, vacinações entre outros serviços disponíveis em clínicas de saúde sexual. E se a língua é uma barreira também temos voluntários que podem agir como intérpretes no agendamento e nas consultas médicas.
Como surgiu o programa?
O programa surgiu após eu compartilhar com meus gerentes Marc Thompson e Will Nutland o caso de um cliente que só descobriu estar vivendo com HIV quando foi aceito na emergência do NHS com um caso sério de pneumonia. Aos escutar essa história, eles propuseram criar um projeto que desse suporte a estas pessoas. O caso deste cliente para mim foi chocante, pois existem ferramentas de prevenção e tratamento ao HIV disponíveis gratuitamente para todos vivendo no Reino Unido independente de status migratório. Na minha experiência trabalhando com imigrantes e saúde sexual, percebo que o idioma é uma grande barreira para o acesso à informação, além disso a política hostil do NHS, na qual paciente acessando saúde secundária (médicos especialistas) são reportados ao Home Office, confunde e amedronta imigrantes a usar serviços capazes de salvar vidas, como as clínicas de saúde sexual, por exemplo.
O número de casos de HIV está aumentando em meio à comunidade latina e lusófona em UK, enquanto diminui entre ingleses?
Sim, é verdade. Não me lembro de ler sobre a comunidade lusófona, mas esse dado é verdadeiro na comunidade latina. Uma pesquisa de 2017 realizada pela Public Health England (PHE) mostrou que 1 em cada 8 homens gays diagnosticamos com HIV em Londres é brasileiro. Mas, realmente, novos caso de HIV estão reduzindo na população. A pesquisa diz que isso pode ser um indicativo de que a comunidade brasileira é grande em Londres, mas, para mim, também revela a importância da criação de conteúdo em português informando nossa comunidade. Outros países citados na pesquisa são Espanha, Polônia e Itália. De acordo com outra pesquisa da PHE realizada em 2019, em 2011 foram registrados 2700 novos casos de HIV enquanto em 2019 registaram-se 540, uma redução de quase 80%. Então, é certo afirmar que novos casos de HIV estão diminuindo na população em geral, mas não entre homens gays vivendo em Londres. É importante ressaltar que este dado não existe para criminalizar ou estigmatizar uma parcela da população, mas sim entender que membros desta comunidade estão em maior risco e precisam de informação, então para os leitores desta reportagem, se você tem amigos LGBTQIA+ que vive em Londres compartilhe com eles nosso site: https://www.queerhealth.info/qmm/pt.
O idioma é um entrave ao acesso à saúde pública no Reino Unido?
Na The Love Tank, participamos de um projeto em parceria com outra organização chamada GMI no qual criamos grupos de participação comunitária. Nestes grupos, perguntamos aos participantes o que eles acham dos serviços que oferecemos e como podemos melhorá-los. Alguns participantes de outras nacionalidades, mesmo aqueles que falam inglês, acreditam que ter informações disponíveis em diferentes idiomas além do inglês pode facilitar o acesso da comunidade aos serviços de saúde sexual. Isso, para mim, é um indicativo de que o idioma é sim um entrave ao acesso à saúde pública. A boa notícia é que o NHS oferece serviço de interpretes gratuitamente. Além disso existem organizações, como a nossa, que podem te oferecer serviços voluntários de interpretes.
Para acessar o serviço de interprete do NHS é preciso ir até ao seu GP ou à uma clínica de saúde sexual e solicitá-lo.
Faz sentido que pessoas indocumentadas tenham medo de procurar ajuda em serviços de saúde pública?
Nós nunca devemos ter medo de acessar a saúde pública, porém é preciso ficarmos atentos às regras impostas pelo ato imigratório de 2014. Nele, o GP (médico da família), clínicas de saúde sexual e o A&E (emergências) continuam gratuito para todos e o Home Office não terá acesso aos seus dados. Isso significa que se você estiver vivendo no Reino Unido sem um visto válido, você ainda pode tomar conta da sua saúde.
Porém, se seu GP te encaminhar para um especialista, o NHS então poderá compartilhar seus dados com o Home Office. Neste caso, se houver alguma irregularidade, eles poderão entrar em contato com você. Isso é aterrorizante e me irrita profundamente. Porém, as clinicas de saúde sexual e os serviços oferecidos por ela continuam sendo confidenciais e gratuitos independente do seu status migratório.
Para saber mais sobre seus direitos você pode entrar no nosso site. Se você conseguir ler em inglês também existe este site: https://www.patientsnotpassports.co.uk/learn/ explicando melhor as regras de acesso à saúde pública. Se ficar alguma dúvida, entre em contato comigo pelo email outreach@prepster.com.
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