Do Brasil para o Mundo: A Força Feminina na Imigração
Por: Katia Fernandes

Ao deixar o Brasil em busca de uma nova vida em outro país, muitas mulheres carregam não apenas malas, mas sonhos, medos, saudade e, principalmente, uma incrível capacidade de adaptação. Eu mesma, jornalista por formação, entendi ao longo da minha jornada que a vida não precisa — e muitas vezes não deve — seguir uma linha reta. Fora do Brasil, me vi desenvolvendo novos talentos, descobrindo paixões adormecidas e, como tantas outras mulheres imigrantes, reinventando minha trajetória com coragem e criatividade.
Quando cheguei à Itália, trabalhei com limpeza e como garçonete. Depois, em Londres, fui babá e atuei no comércio. Apesar de sentir, por um tempo, o luto por não exercer minha profissão original, percebo hoje que todos esses caminhos me fortaleceram. Cada experiência me tornou mais preparada, resiliente e capacitada para a vida — muito além do campo profissional.
A mudança de país pode ser, para muitas, o ponto de partida de uma nova história. A manicure que aprendeu sozinha, a mulher que começou a vender coxinhas para vizinhos e hoje comanda um negócio lucrativo, ou aquela que trocou a sala de aula por uma sala de estética. Todas têm algo em comum: a resiliiência de quem transforma dificuldades em oportunidades.
O perfil da mulher brasileira imigrante
Em 2023, o Ministério das Relações Exteriores indicou que cerca de 4,9 milhões de brasileiros vivem no exterior, com uma parte significativa composta por mulheres (Fonte: Portal Consular – gov.br). No Reino Unido, por exemplo, oficialmente residem mais de 230 mil brasileiros, com forte presença feminina, especialmente em Londres (Fonte: BrasileirosnoExterior2023 – gov.br).
Nos Estados Unidos, segundo dados de setembro de 2023, 57,8% dos brasileiros que obtiveram o green card eram mulheres, principalmente entre 25 e 44 anos, fase ativa de construção profissional e familiar (Fonte: Panrotas.com.br).
Reinvenção profissional e empreendedorismo

Longe de casa, muitas brasileiras se reinventam por necessidade, mas também por desejo de fazer diferente. A limitação da língua, a validação de diplomas ou o acesso ao mercado formal empurram muitas para o caminho do empreendedorismo. E lá elas brilham!
A mulher que nunca havia feito brigadeiro e hoje vende doces para festas em várias cidades. A cabeleireira que criou uma clientela fiel, atendendo brasileiras e estrangeiras. A profissional que encontrou nas redes sociais uma maneira de divulgar seu trabalho e agora tem um pequeno império caseiro. Essas são histórias reais, comuns e extraordinárias.
Segundo o SEBRAE, mulheres tendem a empreender por necessidade, mas também demonstram maior capacidade de inovação em contextos adversos (Fonte: SEBRAE – www.sebrae.com.br).
Redes de apoio e fortalecimento
Felizmente, a solidariedade entre brasileiras é uma constante. Redes como o Grupo Mulheres do Brasil, Mulheres que Cruzaram Oceanos, coletivos culturais, grupos de WhatsApp, eventos e feiras colaborativas têm sido espaços fundamentais de acolhimento, trocas e crescimento.
Compartilhar experiências, indicar contatos, apoiar emocionalmente — tudo isso contribui para que essas mulheres se sintam menos sozinhas e mais potentes. É na coletividade que o caminho ganha leveza.
O que nos une: a coragem de seguir em frente
O que torna a história da mulher brasileira imigrante tão especial é a coragem e a capacidade de se reinventar. Não importa o quão desafiador o caminho seja — cada passo é um reflexo da resiliência que define essas mulheres. Elas não apenas buscam novas oportunidades, mas, acima de tudo, criam e solidificam suas próprias histórias de sucesso e fortalecimento.
Através da força coletiva, do apoio mútuo e da crença em si mesmas, essas mulheres estão escrevendo um novo capítulo para o Brasil no exterior. E é essa história que, dia após dia, vai sendo construída por todas aquelas que cruzam oceanos com coragem, determinação e a certeza de que a mudança é possível.
Por Katia Fernandes jornalista e co-autora da coletânea Mulheres que Cruzaram Oceanos