Vidas Secas de Graciliano Ramos mostra que, de 1938 para cá, pouca coisa mudou no Brasil.
A exibição do filme Vidas Secas foi uma celebração da arte literária e cinematográfica brasileira.

O grupo Jornadas Culturais, aproveitando as comemorações dos 60 anos da LC Barreto, produtora que tem se destacado por trazer ao público adaptações cinematográficas de obras literárias essenciais para a cultura brasileira, organizou um encontro especial para promover um espaço de reflexão e diálogo cultural sobre o filme Vidas Secas, que faz parte do programa de aniversário da LC Barreto. O evento aconteceu no ICA Institute of Contemporary Art, em Londres, e contou com a participação de um pequeno grupo de amigos e conhecidos.
A exibição do filme Vidas Secas foi uma celebração da arte literária e cinematográfica brasileira. Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, um dos maiores nomes da literatura brasileira e um ícone da literatura de língua portuguesa, o filme retrata as dificuldades e sofrimentos de uma família nordestina marcada pela pobreza, pela seca e pelas injustiças sociais que assolam o sertão nordestino. O filme, assim como o livro, é um retrato cruel e sensível das condições de vida de milhares de nordestinos que, durante o período de seca, enfrentam a luta pela sobrevivência, muitas vezes sem encontrar a ajuda necessária das autoridades.
A obra de Graciliano Ramos, publicada em 1938, mantém sua relevância até os dias de hoje, especialmente pelo retrato social que faz da realidade do Nordeste do Brasil. No filme, assim como no livro, o autor apresenta uma crítica contundente à desigualdade e à desumanização das pessoas em situações extremas, mas também coloca em evidência a força e a resiliência daqueles que vivem à margem da sociedade. A adaptação cinematográfica, dirigida por Nelson Pereira dos Santos (1963), fez um excelente trabalho ao capturar a essência da obra de Ramos, destacando não apenas o drama humano, mas também a dura realidade de um Brasil que, infelizmente, ainda preserva muitas das características apresentadas no livro.

Após a exibição do filme, foi realizada uma conversa ativa liderada por Katya Brito, coordenadora do projeto Jornadas Culturais. Katya, que vem se dedicando com afinco em mediação cultural, propôs uma reflexão sobre o filme. O objetivo da conversa era criar um ambiente de troca de ideias e discussões, incentivando o grupo a se envolver com os temas centrais do filme e da literatura de Ramos. O convívio cultural proporcionou aos participantes a oportunidade de refletir sobre as questões sociais do Brasil contemporâneo, além de convidá-los a pensar sobre as formas como a arte pode contribuir para o debate sobre desigualdade e exclusão social.
A conversa após a exibição possibilitou um conhecimento mais amplo sobre as pessoas, através de suas narrativas e opiniões, e manteve viva a memória de grandes escritores como Graciliano Ramos, que não apenas retrataram a realidade de sua época, mas cujas obras continuam a provocar discussões atuais sobre os problemas sociais. A relevância do filme como uma obra cinematográfica que perpetua os valores e as lições transmitidas pelo autor aborda temas universais como a luta pela sobrevivência, a opressão e o desejo de liberdade.

Natural de Alagoas, Graciliano Ramos (1892-1953) foi um dos maiores escritores brasileiros, amplamente reconhecido por suas obras que exploram a realidade social e humana do Brasil, especialmente do Nordeste. Nascido em Quebrangulo, Alagoas, Ramos iniciou sua carreira como funcionário público e, mais tarde, se dedicou à literatura, destacando-se principalmente no movimento modernista.
Seu estilo é marcado pelo uso de uma linguagem simples e direta, mas profundamente impactante, capaz de capturar as duras condições de vida do povo brasileiro, especialmente dos nordestinos. Sua obra mais conhecida, Vidas Secas (1938), retrata a luta de uma família sertaneja contra a seca e a pobreza e é considerada uma das mais importantes da literatura brasileira, abordando temas como a desigualdade social, a opressão e a resistência do ser humano diante das adversidades.
Outros livros notáveis de Graciliano Ramos incluem Caetés (1933) e São Bernardo (1934), que também exploram questões sociais e psicológicas, sempre com um olhar crítico sobre a sociedade brasileira. Sua escrita, marcada por um realismo pessimista, continua a influenciar gerações de escritores e a ser estudada por sua profundidade e relevância. Graciliano Ramos é um ícone da literatura brasileira, cujas obras continuam a provocar reflexões sobre a realidade social do país.
O encontro também reforçou o papel fundamental de projetos como Jornadas Culturais, que trazem ao público uma rica programação cultural, promovendo a integração de diferentes mundos e a valorização das nossas raízes culturais.