Novo presidente do Brasil começa a costurar o país novamente
Por: Jeremy Browne / Canning House
eleição, que tomou conta do Brasil muito antes do início das campanhas oficiais, chegou a um fim dramático. Luiz Inácio Lula da Silva (1945), popularmente conhecido como Lula, obteve 50,9% dos votos contra 49,1% do atual presidente da República Jair Bolsonaro (1955). Ambos os candidatos nutrem um ódio genuíno um pelo outro, e a campanha contundente deixou o país mais polarizado do que nunca.
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Lula agora enfrenta a tarefa gigantesca de reunir essa nação fraturada. Para ganhar a reeleição, Lula pediu aos brasileiros que lembrassem como era a vida da última vez que ele foi presidente.
Contudo o Brasil e o mundo eram completamente diferentes em 2010. Em 2022, para estar à altura das expectativas, Lula terá que lidar com uma guerra na Europa e uma economia global estagnada; internamente, ele terá que lidar com uma economia atormentada por um sistema tributário supercomplicado, uma baixa produtividade crônica e níveis de polarização visivelmente transformados, nos últimos meses, em violência.
Rosto da política de esquerda do Brasil por mais de três décadas, Lula foi presidente da República de 2003 a 2010, promovendo políticas sociais que ajudaram a combater a aguda desigualdade do Brasil e tirando milhões da pobreza.
Ele deixou o cargo com altíssimos índices de aprovação, mas o Partido dos Trabalhadores (PT), fundado por Lula em 1980, envolveuse numa série de escândalos de corrupção, culminando em dois processos que o condenaram a ficar 580 dias preso, tendo inclusive sua candidatura preterida nas eleições de 2018.
No entanto, em 2021 sua condenação foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Jair Bolsonaro chegou ao poder em 2018, após uma longa carreira como político marginal. Suas mensagens anti-establishment e socialmente conservadoras atingiram uma população exausta pela estagnação econômica, corrupção generalizada e as ineficiências do governo do PT.
Ele é uma figura altamente divisiva devido a sua retórica inflamatória e direcionada a minorias e oponentes políticos; a sua suposta má gestão da pandemia de COVID-19; e a sua busca pelo desenvolvimento econômico da Floresta Amazônica, apesar dos danos ambientais que esse tipo de iniciativa costuma causar.
Enquanto muitos pesquisadores previam uma vantagem confortável para Lula no primeiro turno, com alguns até declarando que o ex-presidente teria uma vitória definitiva, o resultado foi muito mais próximo do que o esperado, com Bolsonaro terminando apenas 1,8% atrás de Lula.
Além disso, muitos dos aliados de Bolsonaro foram eleitos deputados federais, senadores e governadores, potencialmente inibindo a capacidade de Lula de governar, efetivamente, por meio de coalizão. Os resultados das duas rodadas de votação levantam várias questões interessantes sobre o futuro político do Brasil.
O primeiro ponto a ser mencionado é que, embora Lula tenha vencido, Bolsonaro, e mais amplamente o bolsonarismo, não está indo a lugar nenhum. O partido de Bolsonaro, Partido Liberal (PL), é o maior na Câmara Federal e no Senado, enquanto outros partidos que apoiam o bolsonarismo conquistaram o governo dos principais estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, e mais outros sete estados e o Distrito Federal.
Isso foi alcançado apesar de um clima econômico desfavorável, má gestão da pandemia, amplamente percebida, e uma onda anti-incumbente em toda a América Latina, pois a derrota de Bolsonaro constitui a 15ª derrota eleitoral consecutiva de um presidente em exercício na região.
O movimento que Bolsonaro lidera é altamente sofisticado, utilizando, efetivamente, as mídias sociais e campanhas de notícias falsas para se comunicar com apoiadores e desacreditar oponentes. Devido à forte representação política da direita e da extrema direita, Lula provavelmente será forçado a diluir algumas de suas políticas que são intragáveis para a oposição, como aumentar as proteções ambientais ou projetos de infraestrutura financiados pelo Estado.
A mensagem de Bolsonaro, combinando sentimento antiestablishment, conservadorismo social e valores familiares, claramente ressoou em grande parte da sociedade brasileira. Seus ataques incessantes à esquerda encontraram uma audiência receptiva com os muitos brasileiros que veem Lula e o PT como intragáveis, culpando sua corrupção e incompetência pela crise econômica que começou em 2014 e da qual o Brasil nunca se recuperou totalmente.
Bolsonaro também entendeu que a Igreja Evangélica e os barões do agronegócio detinham as chaves do Brasil em 2022. Cerca de um terço dos brasileiros agora são evangélicos, quando há apenas duas décadas se contabilizava cerca de um quarto; enquanto as exportações agrícolas são a maior parte da economia brasileira, equivalente a 125 bilhões de dólares por ano. Bolsonaro formou uma base considerável com o apoio deles, inclusive no Congresso Nacional, onde os interesses evangélicos e do agronegócio são dois dos blocos de votação mais fortes.
Inevitavelmente, o apelo continuado do bolsonarismo coloca em questão o papel da esquerda no Brasil. Sem a figura de proa de Lula, é provável que a esquerda tivesse lutado ainda mais nas eleições gerais. De muitas maneiras, Lula é o pior inimigo de seu partido e, ao mesmo tempo, seu maior patrimônio. Seu carisma e força de caráter, bem como seu indubitável nous político, o trouxe de volta ao palácio presidencial.
Entretanto as alegações de corrupção que atormentaram Lula e seu partido mancharam permanentemente sua reputação entre muitos brasileiros, elevando as taxas de rejeição, mas não tão altas quanto as de Bolsonaro. Sua vitória não muda o fato de que quase metade do país não o aprova.
Nos próximos quatro anos, a esquerda deve encontrar uma nova figura de proa para se unir, não apenas porque Lula é divisivo, mas pela razão mais prática de que ele não concorrerá a um segundo mandato. Além de negociar acordos e coalizões políticas, Lula enfrenta a tarefa ainda maior de unir um país que se dilacerou nos últimos quatro anos.
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Browne ex-ministro de Estado do Reino Unido para a América Latina e atual CEO da Canning House Novo presidente do Brasil começa a costurar o país novamente Brasil Por: Jeremy Browne / Canning House Divulgação Facebook: @noticiasemportuguesuk Twitter: @jornalNEP Instagram: @noticiasemportugues Siga-nos nas redes sociais 10 a 24 de Novemb