A volta de Lula

Por: Nádia Pontes

Luiz Inácio Lula da Silva, que governou de 2003 a 2010, retornará à presidência do Brasil, um país extremamente dividido, a partir de 1º de janeiro de 202e. Lula obteve 59,7 milhões de votos, enquanto Bolsonaro, líder da extrema direita e capitão aposentado do Exército, terminou com 57,7 milhões, com 99,10% dos votos apurados, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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“Um país com democracia, sem armas e onde o amor prevalece sobre o ódio”, disse Lula, reiterando sua promessa de construir um “novo Brasil” com oportunidades para todos, livre da fome, com salário mínimo reavaliado e com saúde pública de qualidade.

“O Brasil é o país da alegria e não a nação do ódio. Nosso país precisa de respeito e diálogo. Obrigado pelo apoio e pelo voto!”, tuitou o líder do PT menos de 48 horas antes de mais de 156 milhões de brasileiros irem às urnas.

Entre cientistas e representantes de organizações socioambientais brasileiras, a sensação é de alívio com a futura volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Lula apresentou propostas para recuperar a agenda e o protagonismo no campo ambiental, que foram reafirmadas em seu discurso logo após a vitória, no último domingo.

Desenvolvimento sustentável

Ciente da dificuldade da realização de algumas propostas de Lula, Renata Piazzon, secretária executiva da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia e diretora do Instituto Arapyaú, fala em alívio por “voltar a ouvir o mínimo” de um presidente eleito, em referência ao primeiro discurso de Lula após os resultados das eleições.

“A prioridade total deve ser a retomada da agenda de comando e controle. Sem isso não há combate ao desmatamento. É preciso fortalecer os órgãos e as instituições”, diz Piazzon.

Dificuldades no campo

Para muitos cientistas, a ideia dominante é de que o obstáculo maior no caminho foi removido, com a saída de Bolsonaro representando o fim do negacionismo da ciência nas instituições públicas e a volta do diálogo.

Com um Congresso mais conservador, o andamento da agenda ambiental e climática vai depender bastante do nome escolhido para assumir o Ministério da Agricultura. Isso será determinante para conservar o que resta de Cerrado, segundo maior bioma brasileiro e que responde por 12% da produção de soja do mundo e 10% da carne bovina exportada no globo.

“Ainda há um longo caminho a ser percorrido para inserir o Cerrado nos acordos internacionais que não aceitem produtos vindos de áreas desmatadas. A dificuldade será grande, já quea região Centro- Oeste, importante produtora de grãos, foi um espaço forte de votos bolsonaristas”, cita Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB), líder de um estudo recente que mostrou que o desmatamento já provocou o aquecimento de até 3,5 °C no Cerrado.

Ministério indígena e sociedade vigilante

Carlos Nobre nomeia ainda outro ponto que considera inovador nas declarações do presidente eleito: “É a primeira vez que se fala na criação de um Ministério dos Povos Originários. Isso é dar poder político aos indígenas do Brasil. Isso é brilhante, lembrando que temos mais de 300 povos no país”, ressalta, em referência à fala de Lula na Avenida Paulista.

Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) diz que a expectativa é que o novo governo implemente tudo o que foi dialogado no período prévio à eleição, para além da criação do ministério.

“Nós precisamos de orçamento para demarcação das terras indígenas. Sem isso, não há aplicação de políticas públicas. A ideologia bolsonarista, de racismo institucional, precisa ser ceifada das instituições”, afirma Tuxá.

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Apesar do clima de otimismo, de retorno à normalidade e valorização da agenda ambiental, a sociedade civil vai se manter crítica, afirma Suely Araújo. “Vamos cobrar o próximo governo para que as promessas de campanha se tornem realidade.”

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