O Brasil e a Geografia da Fome
Por: Fernando Rebouças
No decorrer da pandemia do coronavírus e com os consequentes impactos econômicos e sociais, o Brasil no ano de 2022 contabilizou mais de 30 milhões de cidadãos famintos que não conseguem comer de forma digna no dia a dia.
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Sabemos que a fome existe ao redor do mundo em diferentes países, mesmo em nações mais desenvolvidas economicamente como EUA e China, porém o fato do Brasil ser um dos maiores produtores de alimentos do planeta torna-se vergonhoso o nosso país tupiniquim ter o equivalente a 10 vezes a população do Uruguai passando por esse sofrimento.
Mesmo sendo um assunto recentemente debatido durante as eleições presidenciais de 2022 no Brasil, trata-se de um tema há muito tempo abordado mesmo nos tempos da ditadura militar (1964 – 1985), principalmente com o lançamento dos escritos de Josué de Castro (1908 – 1973), médico especialista em nutrição e que atuou como embaixador na ONU tendo seus direitos políticos cassados durante a ditadura por ser um fiel combatente contra a fome no país.
Para celebrar a obra, a editora Todavia republica no Brasil a obra ícone “Geografia da Fome” de autoria de Josué de Castro com todos os textos na íntegra e prefácio de Silvio Almeida. Na página 77, o célebre autor discorre sobre a questão nutricional da seguinte forma: “Acontece que o organismo para manter a tensão osmótica de seus humores, havendo falta de sódio, lança mão do potássio, cujas taxas se apresentam sempre altas.
Essa baixa de sódio e essa subida vicariante do potássio representam um grave desequilíbrio iônico, sendo uma das causas do esgotamento neuromuscular e da fadiga rápida nos climas tropicais”. Na página 66, o autor ainda enfatiza sobre as necessidades das proteínas a serem absorvidas pelo organismo: “O déficit proteico resulta da quase que ausência absoluta, no regime alimentar dessa gente, das fontes de proteínas animais: carne, leite, queijo e ovos.
Proteínas completas capazes de fornecer ao organismo os diferentes ácidos aminados de que ele necessita para a formação de seu próprio protoplasma vivo (…). São também raras as diarreias de fome, que resultam das grandes carências proteicas e que têm sido observadas com frequência nas grandes epidemias de fome, como a da Espanha durante os anos da Guerra Civil, ou como as de certas épocas de seca no Nordeste do Brasil.”
(pág 67) A partir da obra de Josué de Castro que apresenta estudos profundos sobre as fontes nutricionais fartamente encontradas no Brasil, podemos compreender os riscos de problemas de saúde causados por determinados tipos de carências de proteínas e a complexa problemática social que o alimento ainda enfrenta no país.
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Nos tempos atuais, é importante também combater o desperdício de alimentos nos processos logísticos, a elevação abusiva dos preços e instituir programas de banco de alimentos para atender famílias e indivíduos em risco de vulnerabilidade social. Afinal, como dizia o saudoso sociólogo Betinho, “quem tem fome tem pressa”.