Eleições em UK: conheça Lara Parizotto, brasileira candidata a councillor por Hounslow, Londres

Dia 05/05 tem eleição local na Inglaterra. Diferente de Escócia e País de Gales, por aqui só votam os residentes permanentes ou nacionalizados. São 13 os candidatos de origem latino-americana e apenas três falantes de português tentando uma vaga de councillor em seus Boroughs.

No caso destas votações, a maioria dos assentos na Inglaterra, eleitos pela última vez em 2018 e na Escócia e no País de Gales em 2017, estará livre para eleição. As eleições locais na Inglaterra coincidirão com as eleições da Assembleia da Irlanda do Norte de 2022.

Entre os candidatos em campanha, há dois portugueses. Tiago Corais é do Partido Trabalhista em Littlemore nas eleições locais de Oxford e Diogo Costa, um engenheiro de software que tenta uma vaga no council de Oval. Ele também está no Labour Party. Diogo já foi Mayor da juventude de Lambeth.

Se ganhar para conselheira de Hounslow, no oeste de Londres, Lara Parizotto será a possivelmente a primeira brasileira a ocupar um cargo político desse tipo na Inglaterra.

A reportagem de Notícias em Português procurou os três candidatos e os convidou a responder cinco perguntas. A seguir, as respostas de Lara Parizotto.

“Como imigrante e uma pessoa com condição financeira não muito boa, a política virou algo pessoal muito cedo”, diz a brasileira Lara Parizotto

Lara Parizotto, de Hounslow, Londres

Notícias em Português – Por que resolveu candidatar-se?

Lara Parizotto – Quando eu me mudei para o Reino Unido, a política se tornou algo muito mais pessoal para mim. No dia a dia, eu era influenciada pelas questões da imigração. Tenho passaporte italiano, felizmente, o que me ajuda muito, mas a realidade de ser imigrante te afeta no dia a dia, afeta como as pessoas te veem. Eu me mudei para o Reino Unido muito nova. Com apenas 16 anos, estava morando numa casa compartilhada. As outras pessoas da casa não eram necessariamente meus amigos, eram estranhos, a gente conversava nas áreas em comum, mas era uma moradia precária, o aluguel era muito caro, o dono da casa não esteva comprometido com as nossas necessidades. Se a gente reclamasse de algo, ele ameaçava nos expulsar da casa. A questão do trabalho também me mostrava a necessidade da política. Eu estava trabalhando como faxineira em um escritório e as condições de trabalho eram muito difíceis, os salários eram muito baixos. Essa é uma experiência que muitos vivem, então como uma imigrante no Reino Unido e uma pessoa com condição financeira não muito boa, a política virou algo pessoal. Comecei a me interessar, a querer saber mais sobre política, hoje estou em um lugar da minha vida no qual eu quero causar mudanças para melhorar essa situação em que muitos ainda vivem.

A nossa voz como imigrante no Reino Unido é importante. Pelas minhas próprias pesquisas, não posso dizer com 100% de certeza, não sei de nenhum brasileiro que já tenha sido ou que seja atualmente councillor no Reino Unido. Então, se eu for eleita agora no dia 5 de maio como councillor, é possível que eu seja a primeira brasileira.

Qual a principal necessidade de sua comunidade e que será sua prioridade de trabalho?

Quero contribuir na situação de como as pessoas moram em Londres e como as pessoas trabalham. Como councillor poderei ajudar as pessoas, como ao informá-las sobre os direitos que elas têm. Muitos imigrantes não sabem que têm direitos. Também quero contribuir com o meio-ambiente, a encorajar os meios de transporte ativos, cuidando de nossos parques, plantando mais árvores, sempre com atenção especial à questão da moradia.

Brentford West Ward, no Borough de Hounslow, é uma comunidade diversa, com muitos imigrantes, mas no geral todos têm sofrido com preços de aluguel, custo de vida muito alto. A geração mais nova não consegue mudar para uma casa sua e construir família. Há muitas famílias numerosas morando em pequenos apartamentos. A questão da moradia é uma necessidade comum, principalmente em Londres. Outra necessidade é melhorar nosso transporte público. Se a gente quer contribuir com o meio-ambiente é preciso dar a chance para que as pessoas escolham o transporte público. Precisamos de ônibus com maior frequência, trens com maior frequência, mas também que a gente possa pagar. O ticket do trem é muito caro.

Como a sua experiência profissional e de vida pode influenciar a sua gestão?

Passei por muitas dificuldades aqui e ainda vejo muita gente passar pelas mesmas dificuldades, e eu quero poder ajuda-las.

Em 2014, quando eu me mudei para o Reino Unido, trabalhei como faxineira de um escritório por três anos à noite, enquanto fazia meus A Levels durante o dia. Aprendi muito com essa experiência. Era um trabalho pesado, para uma remuneração muito baixa – uma situação que muitos ainda vivem.

Quando terminei meus A Levels, fui para a Universidade de Cambridge, estudei política durante três anos, estudei muito sobre teoria política, sobre sistemas políticos, sociologia, antropologia.

Trabalho para The3Million, campanha de apoio aos imigrantes. Tenho conversado com membros do parlamento para criar emendas em torno de legislações para beneficiar os imigrantes. Tenho trabalhado agora na campanha de direito de voto baseado na residência, pedindo para que todos os residentes do Reino Unido, independente de onde nasceram, tenham direito de votar nas eleições locais. Isso já acontece na Escócia e no País de Gales. Na Inglaterra e na Irlanda do Norte, a situação é diferente. Faço campanha para que isso mude.

Também ajudei bastante e continuo ajudando as pessoas que aplicaram para a EU Scheme. Continuo ajudando os que ainda não tiveram a situação resolvida. Infelizmente, é o caso de muitos.

Qual será seu grande desafio?

O desafio é que a gente como imigrante saiba que pode participar da política. Na minha comunidade brasileira, muita gente tem receio em participar da política britânica porque teme que não ser aceita. Sente que, como estão aqui “como hóspedes”, não devem reclamar, devem aceitar tudo como é. Um desafio então é mudar essa perspectiva e falar não você é um residente, você paga Council Tax, você paga National Insurance, você tem o direito como qualquer outro de ter sua voz ouvida.

Outra dificuldade no geral da política é balancear as diferentes necessidades. Nós temos, por exemplo, a necessidade de salvar o meio-ambiente, mas as medidas que podemos pôr em prática no momento dificultam a vida de alguns, como por exemplo não andar de carro e usar transporte público. Na questão da moradia também: temos a necessidade de construir mais casas, mas precisa também pensar como vamos providenciar saúde pública para essas pessoas, se teremos espaço suficiente nas escolas.

Qual a importância de representatividade da comunidade falante de português na política inglesa?

Todas as comunidades, não importa a brasileira, portuguesa, romena, todo mundo tem que participar da política. Se temos 10% da população de imigrantes, precisamos de 10% dos nossos políticos da comunidade. Porque nós entendemos o que passamos como imigrantes, especialmente com o sistema de imigração, que é cada vez mais difícil de entender e excludente. Então, precisamos ter voz na política. Democracia é isso. É questão de todo mundo participar para que todos se beneficiem.

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