Entrevista com o Cônsul do Brasil no Reino Unido. Essa interação entre o Consulado e a comunidade é essencial para garantir uma relação de confiança e colaboração mútua
João Alfredo dos Anjos Júnior é Cônsul-geral do Brasil no Reino Unido, acessível e atencioso com os brasileiros que buscam o seu apoio, ele costuma prestigiar eventos culturais e comunitários, o que reflete o apoio às iniciativas que promovem a cultura brasileira, como forma de manter viva a identidade e a conexão com o Brasil mesmo estando fora do país. Essa interação entre o Consulado e a comunidade é essencial para garantir uma relação de confiança e colaboração mútua, buscando sempre o bem-estar e o fortalecimento da comunidade brasileira no Reino Unido.
Entrevista com o Cônsul-geral do Brasil no Reino Unido João Alfredo dos Anjos Júnior
NP – Quanto tempo dedicado à carreira diplomática?
Completarei 30 anos de carreira no próximo ano. No Itamaraty, nos dedicamos inteiramente à nossa profissão por muitas décadas.
NP – Qual é a sua visão, enquanto um jovem diplomata, sobre o Brasil de hoje?
O Brasil é um país que inspira pela criatividade e força do seu povo, e também por sua diversidade cultural e ambiental. Vemos os avanços em termos de estabilidade política e econômica, que fazem do Brasil hoje um dos pólos mais dinâmicos da América Latina.
NP – Quais são os principais desafios exigidos pelo seu cargo?
Dedicação atenta e persistente no trabalho de defesa da prestação de serviços consulares eficientes e de assistência permanente à comunidade brasileira residente. Somos 220 mil residentes e, anualmente, 500 mil que visitam o Reino Unido, entre turistas, estudantes, profissionais e artistas. É preciso prestar a todas e a todos os brasileiros os melhores serviços consulares, um desafio contínuo.
NP – Qual é a visão que o senhor tem sobre a comunidade brasileira, no Reino Unido?
As brasileiras e os brasileiros residentes no Reino Unido são um espelho do povo brasileiro, inovadores, trabalhadores, criativos e dedicados. Os brasileiros têm dado contribuição importante à economia e à diversidade cultural britânica. Noto crescente organização da comunidade para defender projetos importantes e crescente interesse na participação política local.
NP – O que um brasileiro deve ter em conta quando pensar em se mudar para o Reino Unido?
Mudar de país é sempre um grande desafio. Creio que é importante conhecer o Reino Unido, buscar informações sobre as leis e as normas do país. Importante também saber falar o inglês. Finalmente, não se deixar enganar por oferecimentos de vida fácil e ganhos rápidos.
NP – O que considera ser o “cartão postal” da cultura brasileira na Europa?
O Brasil tem muitos cartões postais, sua música, sua arte em geral, o cinema, os esportes (não só o futebol). Aqui em Londres a comunidade brasileira tem participado ativamente de diversos campeonatos, inclusive de voleibol, a exemplo do All Nations. Fomos campeões no feminino e no masculino este ano nesse campeonato que envolve países com grande tradição esportiva e suas comunidades residentes. Há grande variedade e oferta de eventos culturais com gastronomia brasileira e música, do samba ao forró. Como a maior comunidade latino-americana residente no Reino Unido, a comunidade brasileira tem trazido muitas de suas manifestações tradicionais e dado a elas destaque no cenário já muito diversificado das manifestações culturais no Reino Unido.
NP – Qual a maior dificuldade em defender os direitos dos brasileiros no exterior?
Muitas vezes há desconhecimento sobre leis e normas, que precisam ser seguidas. Por outro lado, é preciso sempre estar atento a que se possa garantir tratamento correto, digno e respeitoso a todas as cidadãs e cidadãos brasileiros. No Reino Unido não encontro dificuldades em defender os direitos dos brasileiros em virtude de uma relação muito profissional e séria que mantemos com todas as autoridades locais.
NP – Como lida com a xenofobia relativamente aos brasileiros que vivem no exterior?
O fenômeno, infelizmente, existe e temos procurado sempre combatê-lo com mais informação sobre o que somos e como pensamos. O respeito à diversidade é essencial para superarmos a xenofobia.
NP – Poderia citar o nome de uma mulher? Porque a escolha?
Beata Vettori (1909-1994), primeira diplomata mulher a exercer o cargo de cônsul-geral do Brasil em Londres (1961-1963), 60 anos atrás. Beata Vettori foi uma grande diplomata e teve papel fundamental para elevar a posição da mulher na carreira diplomática.
NP – Poderia citar o nome de um homem? Porque a escolha?
João Clemente Baena Soares (1931-2023), embaixador dos mais influentes no Ministério das Relações Exteriores, recentemente falecido. Baena Soares foi secretário-geral do Itamaraty e Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde teve atuação das mais destacadas. Exemplo de profissionalismo e de dedicação ao Brasil.