Enquanto o planeta estufa, a paz mundial é constantemente ameaçada pelos insanos
Na última quinta-feira, a Coreia do Norte elevou o tom das ameaças aos EUA, sugerindo que pode atacar o USS Kentucky, submarino armado com mísseis nucleares e o primeiro do tipo a visitar um porto sul-coreano desde 1981.
A embarcação chegou em Busan, na Coreia do Sul, na terça-feira (18). Horas depois, os norte-coreanos dispararam dois mísseis balísticos no mar do Japão, em uma trajetória cujo alcance permitiria atingir o submarino se os projéteis fossem lançados em direção ao porto.
No dia seguinte, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, embarcou no submarino. Ele afirmou: “Nossos países vão responder de forma resoluta e esmagadora ao avanço das ameaças nucleares da Coreia do Norte por meio do Grupo de Consulta Nuclear e do envio de ativos estratégicos, como os submarinos nucleares lançadores de mísseis balísticos.”
Após a pouco sutil troca de ameaças, a agência estatal KCNA afirmou que “os EUA têm que entender que estão em águas perigosas” e que “o envio de ativos estratégicos dos EUA, à península, vai contra as nossas condições de emprego de armas nucleares”.
Essa escalada de tensão acontece em um momento crucial da história dos 70 anos de divisão da península coreana, após a guerra de três anos encerrada pelo armistício que será lembrado na semana que vem, e ocorre em meio ao aumento do isolamento do regime de Kim Jong-un devido à pandemia da Covid-19.
Em 2018, os EUA tentaram mais uma vez negociar com o ditador, inclusive com três encontros pessoais com o então presidente Donald Trump. No entanto, as negociações não prosperaram porque os americanos buscavam o fim do programa de armas nucleares norte-coreano, que é visto como o único seguro de vida na lógica da ditadura.
O problema é que Pyongyang continua sob embargos internacionais, tendo como aliados apenas a China, sua grande rival geopolítica de Washington na Guerra Fria 2.0, e a Rússia de Vladimir Putin. Assim, no ano passado, o regime acelerou o ritmo de testes de mísseis e o desenvolvimento de ogivas nucleares capazes de atingir os EUA.
Em vez de negociar, os americanos optaram por convidar o linha-dura Yoon para uma visita de Estado em abril, durante a qual assinaram a criação do Grupo Consultivo para o caso de um confronto nuclear na península e anunciaram que os EUA voltariam a estacionar submarinos com armas atômicas no Sul. Nesta quinta-feira, a Casa Branca anunciou uma cúpula entre Joe Biden, Yoon e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em 18 de agosto, para discutir a segurança regional.
Em abril, Yoon e Joe Biden fizeram ameaças diretas de aniquilar com força nuclear o regime norte-coreano se Pyongyang empregar esse tipo de armamento. Como os EUA não querem posicionar armas nucleares na península para não melindrar a China, a presença dos submarinos foi a saída encontrada para intimidar Kim, além das usuais manobras conjuntas.
Os EUA operam 14 submarinos da classe Ohio, como o USS Kentucky, de propulsão nuclear. Eles podem levar 24 mísseis Trident D5, mas neste ano o número foi reduzido para 20, cada um com talvez quatro ogivas independentes. Assim, uma única embarcação pode ter quase três vezes mais bombas atômicas do que todo o arsenal norte-coreano, estimado em 30 delas pela Federação dos Cientistas Americanos.
Diante dessa tensão instalada, parece improvável que Kim use uma arma nuclear contra Busan, pois isso implicaria a obliteração de seu regime. No entanto, o duelo retórico tem escalado a níveis não vistos desde 2017, quando Trump assumiu o governo e chamava o ditador de “homem-foguete”.
Kim tem realizado ensaios com novos e poderosos mísseis, e os EUA parecem estar repetindo o mesmo padrão de resposta que ocorreu nos anos 1990, quando evitaram um ataque a Pyongyang e abriram negociações que permitiram a entrada de tecnologia no Norte – o que, ao fim, acabou ajudando a desenvolver a bomba atômica que foi testada pela primeira vez em 2006, em um total de seis vezes.
FONTE: GOR GIELOW (FOLHAPRESS)