O cantinho do eterno poeta Vinicius de Moraes
Da Redação
Praia de Itapoan Foto Amanda Oliveira
Um dos grandes nomes da Bossa Nova, Vinicius de Moraes compôs a letra da música que por alguns anos foi a segunda mais tocada no mundo, Garota de Ipanema. Se Vinicius nasceu carioca, em 1913, certamente, partiu baiano desse mundo, em 1980, deixando à cultura brasileira patrimônio inestimável. Entregou-se à vida com intensidade, boêmio, apaixonado. Casou-se por nove vezes e inquirido por Tom Jobim por quantas vezes iria se casar, respondeu: “quantas forem necessárias”. Sobre si, dizia ser nada mais que “um labirinto em busca de uma saída”. Labirinto que era, buscando saídas, encontrou na magia de Itapuã um pouso, no colo de Gesse, sua morada divina.
GESSE A INDIA QUE CONQUISTOU O POETA
Apresentada por Maria Betânia a Vinicius, Gessy Gesse, atriz baiana do Cinema Novo, com sua beleza selvagem, força e alegria, características dos filhos de Iansã, arrebatou o coração do poeta que por ela se apaixonou à primeira vista. Enamorados, buscaram refúgio abençoado na Bahia, no bairro inspirador de Itapuã. Se a Bahia abençoou o poeta com sua musa e outras inspirações, ele agraciou esta terra com sua poesia. Com ela ele viveu por sete anos, o casamento mais duradouro. E por ela ele mudou de religião e se radicou na Bahia.
O CASAMENTO
Juntos desde 1969, o casal festejou sua união em 1973, na Bahia, em um ritual cigano. Celebraram o amor num ato de total entrega, cortando os pulsos para misturar seus sangues. Naquele dia, Vinicius comemorava também seus sessenta anos e estava radiante. Tiveram como padrinhos os casais Jorge Amado e Zelia Gatai e Calasans Neto e Auta Rosa.
BENÇÃO DE OXALÁ
“O branco mais preto do Brasil na linha direta de Xangô. Saravá”! O contato do agnóstico poeta com o sincretismo religioso baiano rendeu bons versos à música brasileira. Sua obra influenciou-se fortemente pela riqueza espiritual do terreiro de candomblé de Mãe Menininha, apresentada a ele por Gesse. Vinicius era filho de Oxalá.
NINHO DE AMOR
A casa foi projetada por Jamison Pedra e Silvio Robatto e construída em frente ao farol de Itapuã. O convite para inauguração da casa foi idealizado pelo próprio Vinicius, quando a batizou de Principado Livre e Autônomo de Itapuã, do qual ele era o Príncipe Consorte. No quarto do casal há uma curiosa banheira com vista para o mar, canto preferido de Vinicius para criar seus versos. A poesia estava presente no dia a dia da casa. Gesse relata que costumava encontrar surpresas na xícara do café da manhã como uma flor ou um poema, além de versos em suas peças de roupa e lingeries.
AMIGOS
A presença de Vinicius movimentou ainda mais a efervescente cena cultural de Salvador nos anos 70. A vida e obra do poeta também foram enriquecidas pela convivência de amigos como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Batatinha, Calasans Neto, Auta Rosa, Carlos Bastos, Camafeu de Oxóssi, Nilda Spencer, Rubinho dos Carnavais, Olga de Alaketu, Walter Queiróz, dentre tantos outros baianos.
TARDE EM ITAPUÃ
Toquinho conta que se deparou com o poema “Tarde em Itapuã” ainda na máquina de escrever de Vina, apelido do poeta. Pediu para musicá-lo, mas o poeta negou dizendo que pretendia entregá-lo ao baiano Caymmi. Uma noite antes de embarcar para São Paulo furtou a letra, voltando à Bahia três dias depois com a música. Cativou o poeta e juntos cantaram em todo o mundo a famosa e mágica praia de Itapuã. Tantas outras músicas famosas, como “Onde Anda Você” e “Tonga da Mironga do Kabuletê”, foram compostas nesta época. Toquinho virou o parceiro inseparável de Vinicius de Moraes e juntamente com ele criou um legado para a música brasileira.
GAROTA DE IPANEMA
A música “Garota de Ipanema”, ícone da bossa nova, foi composta por Antônio Carlos Jobim e letrada por Vinicius de Moraes em 1962. É considerada a segunda canção mais executada da história da música mundial, depois de Yesterday, na voz dos Beatles
Hoje a Casa de Vina é um hotel que zela pelo patrimônio cultural deixado pelo poeta e preserva a atmosfera e a poesia do eterno Vinicius de Moraes.