Prigozhin X Putin: um dia da caça o outro do caçador!

Yevgeny Prigozhin, o líder do Wagner, anteriormente conhecido como o ‘chef de Putin’, com o seu grupo Wagner desempenhou um papel importante na guerra da Ucrânia.

Prigozhin é o líder do empreiteiro militar privado russo conhecido como Grupo Wagner. Ele ganhou notoriedade ao assumir um papel cada vez mais visível na guerra da Ucrânia, onde seus mercenários estão lutando em nome de Moscou após as tropas regulares sofrerem grandes perdas e perderem território em derrotas humilhantes. Em abril, depois de uma longa e sangrenta batalha, os combatentes do Wagner ergueram uma bandeira russa na cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, conquistando uma vitória crucial após 15 meses de conflito. Prigozhin aproveitou esse momento de triunfo para acusar publicamente o alto escalão militar da Rússia de ser responsável pelos fracassos na Ucrânia, algo que poucos podem fazer sem sofrer represálias do Kremlin. A rivalidade com o Ministério da Defesa alcançou novos patamares quando o líder do Wagner afirmou que seus combatentes haviam cruzado a Ucrânia em direção à cidade russa de Rostov-on-Don e que lutariam contra qualquer um que tentasse detê-los. Ele também questionou a versão oficial do Kremlin sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, acusando o Ministério da Defesa de enganar a sociedade e o presidente ao contar uma história falsa sobre uma agressão da Ucrânia e um suposto ataque planejado pela OTAN. Essas declarações foram divulgadas em um videoclipe em seu serviço de imprensa no Telegram.

Em resposta às provocações de Prigozhin, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou em um discurso de emergência transmitido pela televisão que a revolta armada do Wagner equivalia a traição e que qualquer pessoa que pegasse em armas contra os militares russos seria punida. Essa provocação ocorreu um dia depois que Prigozhin acusou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, de ordenar um ataque com foguetes aos campos do Wagner na Ucrânia, resultando na morte de um grande número de combatentes.

Prigozhin ganhou destaque inicialmente por seu relacionamento com Putin, quando o atual presidente ainda era vice-prefeito de São Petersburgo. Ele aproveitou essa conexão para desenvolver um negócio de catering e ganhar contratos lucrativos com o governo russo, o que lhe rendeu o apelido de “chef de Putin”. Posteriormente, expandiu seus empreendimentos para outras áreas, incluindo mídia e a infame “fábrica de trolls” na internet, o que levou ao seu indiciamento nos EUA por interferência nas eleições presidenciais de 2016.

Os 50 mil homens de Wagner

Em janeiro, Prigozhin admitiu ter fundado, liderado e financiado a obscura empresa Wagner. Ele afirmou ter cerca de 50.000 homens à sua disposição.

A companhia de Prigozhin se chamava Wagner devido ao apelido de seu primeiro comandante, Dmitry Utkin, um tenente-coronel aposentado das forças especiais do exército russo. Logo estabeleceu uma reputação de brutalidade e crueldade. Wagner foi visto pela primeira vez em ação no leste da Ucrânia logo após o início de um conflito separatista em abril de 2014, nas semanas seguintes à anexação russa da península ucraniana da Criméia. Embora tenha apoiado o levante separatista em Donbass, o centro industrial do leste da Ucrânia, a Rússia negou o envio de suas próprias armas e tropas para lá, apesar de amplas evidências em contrário. O envolvimento de empreiteiros privados na luta permitiu a Moscou manter um certo grau de negação.

O pessoal de Wagner também foi enviado para a Síria, onde a Rússia apoiou o governo do presidente Bashar al-Assad em uma guerra. Na Líbia, eles lutaram ao lado das forças do comandante renegado Khalifa Haftar. Acredita-se que o grupo também opere na República Centro-Africana e no Mali. Prigozhin teria usado a implantação de Wagner na Síria e em países africanos para garantir contratos lucrativos de mineração. A subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, disse em janeiro que a empresa estava usando seu acesso a ouro e outros recursos na África para financiar operações na Ucrânia. Alguns meios de comunicação russos alegaram que Wagner estava envolvido nos assassinatos de 2018 de três jornalistas russos na República Centro-Africana que investigavam as atividades do grupo. Os assassinatos permanecem sem solução. Por que Wagner foi acusado de abusos dos direitos humanos? Países ocidentais e especialistas das Nações Unidas acusaram os mercenários de Wagner de abusos dos direitos humanos em toda a África, inclusive na República Centro-Africana, Líbia e Mali.

Em 2021, a União Europeia acusou o grupo de “graves abusos dos direitos humanos, incluindo tortura e execuções e assassinatos extrajudiciais, sumários ou arbitrários” e de realizar “atividades desestabilizadoras” na República Centro-Africana, Líbia, Síria e Ucrânia. Vários vídeos surgiram com a intenção de mostrar algumas das atividades que contribuíram para a temível reputação de Wagner. Um vídeo online de 2017 mostrou um grupo de pessoas armadas, supostamente empreiteiros de Wagner, torturando um sírio e espancando-o até a morte com uma marreta antes de mutilar e queimar seu corpo. As autoridades russas ignoraram os pedidos da mídia e de ativistas de direitos humanos para investigar. Em 2022, outro vídeo mostrou um ex-empreiteiro da Wagner espancado até a morte com uma marreta depois que ele supostamente fugiu para o lado ucraniano e foi repatriado. Apesar da indignação pública e das demandas por uma investigação, o Kremlin fez vista grossa.

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