Comunicação não violenta em tempo de diálogo

Por Gilson Guimarães*

Como você analisa a sua comunicação?

É inegável que a capacidade de comunicação é uma das habilidades mais desejadas e exigidas por canais de comunicação, artistas, jornalistas e políticos em geral. Mas, infelizmente, essa capacidade não é adotada pela maioria,  principalmente nos lamaçais, hoje chamados de redes sociais, onde destacam-se o WhatsApp e Telegram, onde aparentemente tudo se pode, se confundindo muitas vezes com verdadeiras rinhas.

Se tem uma habilidade que é essencial para qualquer momento da vida e principalmente para o sucesso e atingimento do objetivo final nos debates é a comunicação não violenta (CNV). Independente onde você esteja ou do lugar que veio, você vai precisar dela se quiser ter sucesso ou expor os seus pontos com eficiência, inteligência e de forma persuasiva.

Conforme definido por Marshall Rosenberg*, a CNV é uma forma de  expressar nossos desejos e necessidades, optando por um caminho conciliador e pacífico,  gerando uma comunicação com mais empatia.

Mas será que é isso que vemos na atualidade?

Boa parte dos conflitos que temos com outras pessoas pode ser causado mais pela forma como expomos nossas ideias do que propriamente pelas diferenças de opinião.

Vivemos tempos de total imediatismo. As pessoas mal ouvem um argumento e já contra-argumentam achando que suas justificativas são melhores ou mais convincentes do que a do outro.

Nas mídias em geral e redes sociais, os diálogos estão cada vez mais sem filtro. As pessoas expõem suas opiniões, fazem críticas e geram conflitos por não saber equilibrar o  momento de falar e ouvir, de analisar e de contestar, deixando escapar em muitas falas uma linguagem violenta, muitas vezes com xingamentos e ofensas pessoais que, pela violência a qual são inseridas,  acabam por protagonizar o diálogo, notícia ou debate.

Recuar ou atacar se apresentam como ações e reações inerentes aos seres humanos. Por isso, cabe a nós saber o momento adequado de retirarmos os próprios escudos, nossas defesas e dar espaço para o respeito, a empatia, o saber ouvir e dar atenção.

Aceitar a ideias que não somos doutores em tudo já é um bom começo, mas o que se observa dia a dia são pessoas sem a menor autoridade em determinados assuntos, discutindo, impondo, criticando algo que não tem a menor noção e muitas vezes extraídas de fontes totalmente sem prestígio. Ou nos pântanos de grupos de WhatsApp e outras redes sociais, onde rola de tudo.

Desafios

Para Rosenberg, é na forma como as pessoas se comunicam entre si que se encontra a solução para resolver desentendimentos e discussões. Mas ele aponta que existem algumas maneiras de se comunicar que fazem com que as pessoas apresentem comportamentos violentos, o que definiu como “comunicação alienante da vida”. Exemplos disso são julgamentos moralizantes (que trazem sentimentos como culpa, depreciação, rotulação e crítica), comparações, negação de responsabilidade e transformação de desejos em exigências.

O objetivo  deste texto aqui apresentado é chamar atenção dos leitores para uma análise de como está sendo nosso comportamento quando o assunto é CNV. Lógico que os conceitos e princípios da CNV vão muito além do que aqui exposto e para isso convido a todos para procurarem saber mais sobre o assunto e assim promover a mudança na sociedade e meio em que vivemos, pois se a mudança não partir de nós mesmos como indivíduos, como exigir dos grupos e da sociedade em geral.

Considerar opiniões isoladas de pessoas e líderes que sem nenhum escrúpulo se julgam enviados dos céus, que vieram ensinar as pessoas o que fazer e como se comportar sem o mínimo escrúpulo, ignorando dados, gráficos, pesquisas científicas, autoridades no determinado assunto  e assim por diante, é se deparar com verdadeiro contorcionismo mental para justificar o injustificável.

É claro, devemos considerar que em uma sociedade, em um país, em uma nação, em um bloco econômico existem as mais distintas visões sobre qual deveria ser o rumo disso ou daquilo. Existem as mais diferentes visões sobre política, existem mais pensamentos sobre esse ou aquele assunto ou tema. Não dá para imaginar que no mundo ou em uma nação todos vão concordar com tudo. Numa sociedade vamos ter pessoas que vão estar distribuídas em meio a um enorme espectro de posições e isso é normal, é natural e isso é esperado inclusive. 

A democracia abraça isso, e é assim que se dá o embate de ideias. É assim que se dá o crescimento. Com ideias muitas vezes contrárias, mas com uma boa habilidade de comunicação, as pessoas vão encontrar respostas plausíveis e razoáveis para o beneficio da sociedade em geral.

É muito importante iniciarmos o exercício do conhecimento, iniciar o abandono dos egos e nos concentrarmos no que é de benefício para a coletividade e para que isso aconteça a mudança tem que partir de nós como indivíduos.

Como disse o grande líder Mahatma Gandhi  “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.  

Marshall Rosenberg – psicólogo norte americano conhecido por implementar uma cultura de paz, seja no âmbito pessoal, corporativo, político etc.

* Gilson Guimarães é coordenador do Fraternidade Sem Fronteiras no Reino Unido; ex-coordenador do Conselho de Cidadania do Reino Unido (CCRU).

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