Sinhô, o “rei do samba”
Por Fabiana Lopes da Cunha*
Para comemorar um ano de Samba de Bamba UK, resolvemos falar de Sinhô, o rei do samba, grande frequentador da casa da Tia Ciata, uma das famosas tias baianas da Praça Onze e das mais notórias no mundo do samba, considerada a matriarca desse novo gênero musical.
Nossa primeira entrevista no canal foi com sua bisneta Gracy Mary Moreira e falamos muito sobre Tia Ciata, Donga, Sinhô e outros grandes sambistas dessa primeira geração (para quem quiser saber mais sobre o assunto, acesse no Instagram ou YouTube do @sambadebamba_UK e veja as entrevistas do Falando de Bamba, com Fabiana Lopes da Cunha entrevistando Gracy Mary Moreira e André Gardel).
José Barbosa da Silva, “Sinhô” (1888-1930), o grande responsável pela difusão e sucesso desse gênero musical no Rio de Janeiro, no Brasil e, posteriormente, no mundo foi compositor, pianista, cavaquista, flautista e violonista. Seu pai era simpatizante de rodas de choro, incentivava o filho a estudar flauta, instrumento que não trouxe grande estímulo ao músico. Foi o piano, existente na casa dos avós, que despertou seu interesse. Piano e violão tornaram-se os instrumentos preferidos do sambista.

Conhecido como o “rei do samba” na década de 1920, começa a despontar para o sucesso com composições que falam do cotidiano do Rio de Janeiro e também com versos pitorescos, nos quais satiriza nomes importantes da política da época, como Rui Barbosa, com o famoso “Fala meu louro”, ou quando inicia uma guerra musical com o grupo de Pixinguinha. Esta teve início quando Sinhô se afastou do grupo de Tia Ciata, vislumbrando escapar dos limites do teclado para se projetar com maior amplitude além das sociedades recreativas.
O êxito de “Pelo telefone” refletindo-se apenas num dos componentes do grupo (no caso, o sambista Donga) criou o clima para a dissensão e a desforra. Essa polêmica nos mostra claramente que as regras de direitos autorais ainda não estavam definidas. O que explica a frase atribuída a Sinhô (que também sofreria várias acusações quanto à autoria de seus sambas na década de 1920): “Samba é como passarinho — é de quem pegar”.
Sinhô, Donga, Pixinguinha, China, Hilário e João da Baiana não se tornaram inimigos, mas começaram a guerrear-se musicalmente, o que, de certa forma, não deixava de enriquecer o cancioneiro popular carioca.
Seria no carnaval de 1918 que Sinhô obteria repercussão com o samba “Quem são eles?”, sua primeira produção divulgada amplamente através de um bloco, que ele mesmo organiza com flauta, cavaquinho, violão, violino, trombone, pandeiro, reco-reco e ganzá. O samba, feito por um bloco com a mesma denominação do samba, pertencente ao Clube dos Fenianos, soou como uma provocação ao grupo de compositores adversos, chefiado por Pixinguinha. Principalmente porque a letra do samba falava da Bahia, ainda que com alusão às “encrencas” políticas da “boa terra”, com Rui Barbosa de um lado e J. J. Seabra do outro.
A partir daí, as provocações ao grupo do Pixinguinha serão uma constante, através de referências veladas, diretas ou pelos títulos das canções.
Cantarolando o samba “Quem são eles?” na Casa Beethoven, encaixando a melodia nos versos pitorescos, Sinhô fez com que em pouco tempo os presentes cantarolassem gostosamente e foi através da pianista Cecília, colega de Sinhô na Casa Beethoven e mais tarde sua companheira, que este samba, depois de muita insistência da intérprete, foi editado.
Com a ampla divulgação feita pelo bloco Feniano, esta música alcança um grande sucesso no carnaval de 1918, estendendo-se por grande parte do Brasil.
Segundo Vagalume, foi também ele quem levou esse gênero para o teatro de revista e muitas das peças tomaram o nome de suas produções, que eram facilmente lançadas na Penha com um sucesso ruidoso.
A produção de Sinhô foi amplamente utilizada nesses teatros. Muitas vezes, o compositor dedicava sambas, com denominações exóticas, para teatrólogos das revistas. Era um dos meios que Sinhô se utilizava para divulgar sua obra, num momento em que a “indústria cultural” no Brasil ainda estava em gestação.
Em sua extensa obra encontramos melodias seladas sob as mais diferentes classificações, como “samba da fuzarca”, “romance pedagógico”, “choro- modinha”, “samba da favela”, “samba democrático”, “sambinha”, entre outros. Seus sambas ainda têm um ritmo “maxixado” como o de Donga, mas, com a sua ampla divulgação, Sinhô consegue ser sem dúvida o compositor que faz a transição para a nova geração de sambistas que fariam sucesso na década de 1930.
Referências: CUNHA, Fabiana Lopes da. Da Marginalidade ao Estrelato: O Samba na Construção da Nacionalidade(1917-1945). SP:Annablume, 2004.
GARDEL, André. O encontro entre Bandeira e Sinhô . Rio de Janeiro: Secretaria
Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação
Cultural, Divisao de Editoração, 1996.
Enciclopédia Itaú Cultural
* Fabiana Lopes da Cunha é integrante do Samba de Bamba UK. No Instagram, @sambadebamba_uk. Facebook e YouTube: Samba de Bamba UK.
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