Um português entre os melhores tenores do mundo, segundo BBC

Luis Gomes nasceu no Montijo, mas mora em Londres desde 2008. No palco do Royal Festival Hall, ele se sente em casa

Por Marta Stephens – Há um português entre os 20 finalistas da mais importante competição entre cantores líricos na Inglaterra, o 2019 BBC Cardiff Singer of the World. Luis Gomes, nascido no Montijo há 32 anos, mora em Londres desde 2008.

Mudou-se para concluir a licenciatura em canto na Guildhall School of Music and Drama. Continuou a fazer mestrado em ópera, concluído em 2012, e hoje coleciona momentos de glória em palcos como o do Royal Festival Hall. Se vencer a competição, cuja final ocorre em junho, Luis levará sua voz de tenor ao London’s Queen Elizabeth Hall. A seguir, ele fala mais sobre o tamanho da conquista.

Notícias em Português – O que significa estar na final do 2019 BBC Cardiff Singer of the World?

Luis Gomes – Ser escolhido entre os 20 finalistas do 2019 BBC Cardiff Singer of the World e para representar Portugal é um prazer enorme e um orgulho. Fiquei muito contente e estou ansioso para mostrar o que consigo fazer nesta que é uma grande plataforma para jovens cantores líricos. Todos nós, em algum momento, sonhamos estar nesta competição, junto dos melhores, e mostrar a nossa capacidade para todo o mundo ver.

Dos lugares onde já cantou, quais o marcaram?

Para dizer a verdade, todos os palcos onde cantei foram especiais de uma ou outra forma, no entanto, os anos que passei na Royal Opera House, em Londres, no Jette Parker Young Artists, a culminar com o meu debuto no papel de Fenton na ópera Falstaff, de Verdi, foram muito especiais para mim. A ROH é como se fosse a minha segunda casa. Outro teatro que me emociona é, sem dúvida, o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, porque é casa, foi palco do meu debuto como Alfredo na ópera La Traviata, seguindo as pisadas de grandes cantores como Alfredo Krauss neste papel, e foi onde venci dois prémios na edição do concurso Operalia de Placido Domingo em 2018.

O que consiste a sua preparação para a final da competição, em junho?

Manter-me em forma tanto fisicamente como vocalmente, preparando minuciosamente tudo o que quero replicar nos dias de competição, mantendo o foco e o sangue frio, tentando que a pressão inerente à competição não interfira na minha performance.

Já se apresentou no London’s Queen Elizabeth Hall?

Não, mas apresentei-me no Royal Festival Hall em 2018 num Mozart Requiem, como solista, dirigido pelo grande Itzhak Perlman – uma inspiração!

Por que se mudou para Londres?

Eu vivo em Londres desde 2008. Vim, primeiro, para concluir a minha licenciatura em canto na Guildhall School of Music and Drama e, depois, fazer mestrado em ópera, que completei em 2012, antes de fazer o National Opera Studio e integrar os Jovens Cantores da Royal Opera House. Inicialmente, mudei-me para completar os meus estudos, mas fui ficando e hoje é o local ideal para me mover por toda a Europa. Espero que se mantenha.

Viver em Londres influencia de alguma forma seu trabalho?

Completamente. Há uma razão principal porque, durante a história, os polos culturais foram se alterando, e isso tem a ver com as condições criadas para que os melhores praticantes de uma determinada área se concentrem num só local. Estas condições levam a que haja uma grande competição e uma vontade de, todos os dias, desafiar nossos limites e tentar ser melhor. Londres é um dos centros culturais do mundo e o facto de muitos dos grandes artistas passarem por aqui faz com que continue diariamente a trabalhar para melhorar e, dessa forma, manter-me junto deles.

Mantém laços afetivos com Portugal? Pensa em voltar a viver lá?

Eu nasci no Montijo, mas cresci numa pequena aldeia do concelho chamada Sarilhos Grandes. Toda a minha família ainda está por lá e esse será sempre o meu país, por muito que me sinta em casa em Inglaterra. Quem sabe um dia possa voltar para lá, nunca se pode dizer nunca.

O que diria a um jovem cantor lírico?

Diria para nunca desistir e trabalhar constantemente na procura de fazer o seu melhor! Construir bases fortes é muito importante para que a confiança do nosso trabalho nunca seja abalada. Fazer uma constante auto análise e perceber os pontos que podem melhorar e também aqueles que podem marcar a diferença. Aceitar a crítica construtiva e ignorar a destrutiva, saber filtrar estas duas é essencial neste meio.

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Camila Titinger representa o Brasil na competição

A cantora soprano brasileira Camila Titinger, de 29 anos, é outra entre os 20 finalistas da edição deste ano do BBC Cardiff Singer of the World. Camila tem dupla nacionalidade brasileira e italiana, e mora na Espanha. É formada pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, de São Paulo. Além de passagens nos mais importantes palcos de ópera da Europa, ela é conhecida pelos inúmeros concertos, desde 2018, ao lado de Plácido Domingo em Ljubljana, Strasbourg, Boston e Dinamarca.

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