Novo Cônsul-Geral do Brasil em Londres promete diminuir espera por documentos

“Também estamos atentos à questão da saúde pública, sobretudo da saúde mental, que parece requerer uma atenção especial”, diz Tarcísio Costa

Por Marta Stephens

Desde fevereiro em Londres, o primeiro compromisso social do novo Cônsul-Geral do Brasil no Reino Unido, Tarcísio Costa, foi uma festa de carnaval em uma escolinha de português. Nordestino de Recife, o embaixador ficou sensibilizado com o esforço de pais e educadores na preservação da língua como herança. Já bem assentado na capital inglesa, com pub preferido e tudo, Tarcísio traz boas notícias para a comunidade. Além das ações itinerantes (quatro só este ano, a começar por Manchester em maio), um novo sistema de agendamento com processamento de documentação via e-mail estará em breve em teste em Londres, o que deve garantir o fim de longas esperas (hoje de até dois meses) para fazer um documento. A seguir, em entrevista exclusiva ao Notícias em Português, o Cônsul-Geral fala mais dos seus planos.

Notícias em Português – O senhor chegou com alguma missão urgente?

Tarcísio Costa – Não. Não cheguei com tarefas urgentes. Nosso consulado é reconhecido pelo bom trabalho que desempenha. O nosso site, onde encontram-se textos detalhados sobre todos os assuntos relacionados à atividade consular, é referência no Itamaraty. Então, cheguei para dar continuidade a um trabalho que já vem sendo feito. Há, sim, espaço para melhorar.

Quantos pessoas trabalham no consulado em Londres?

São 39 funcionários (17 servidores do Ministério das Relações Exteriores e 22 funcionários contratados localmente). A questão é que a demanda é muito grande. Estimamos que 250 mil brasileiros sejam residentes legais ou em processo de legalização. Turistas, em 2016, foram 336 mil, que também demandam bastante do consulado quando perdem o passaporte, e precisam de uma autorização de regresso. Somos a jurisdição mais populosa da Europa, o que não significa que há mais brasileiros vivendo no Reino Unido do que em, por exemplo, Portugal. Mas lá são três consulados, e aqui apenas um.

Há algum projeto de criação de mais um consulado no Reino Unido?

Sim, há um projeto em tramitação no Itamaraty para abertura de um consulado em Manchester.

O consulado tem equipe suficiente para atender a demanda?

Nossa equipe trabalha das 8h30 da manhã às 6 da tarde, mas isso não impede uma fila de espera para agendamento que pode alcançar dois meses. Estamos empenhados a minimizar essa dificuldade trazendo o modelo de agendamento em vigor em Miami, com toda a documentação sendo processada previamente por e-mail. Ao final, só é preciso ir ao consulado para retirar o documento.

Quando esse sistema será implementado?

No que depende de nós, o mais rápido possível, mas claro que isso envolve passos em Brasília. Mas o consulado de Londres está inscrito para fazer parte do grupo de jurisdições do projeto piloto. Para já temos a retomada das ações itinerantes. Serão quatro só este ano, a primeira em Manchester no dia 18/05, e depois Cardiff, Edimburgo e Belfast.

O senhor tem se reunido com representantes da comunidade. O que tem percebido de necessidades?

Estive com jornalistas, com o grupo de mulheres e, logo, terei um encontro com as professoras de português da comunidade. Percebi que a questão do empreendedorismo merece atenção. Há escassez de informação, sobretudo entre os empreendedores de baixa renda, que parecem precisar de uma cartilha que traga informações como requisitos legais e a parte tributária para quem pretende ter um negócio aqui. Também estamos atentos à questão da saúde pública, sobretudo da saúde mental, que parece requerer uma atenção especial.

Desde o começo do ano, há um aumento no número de brasileiros barrados pela imigração britânica. Isso poderia sinalizar uma alta na quantidade de brasileiros ilegais aqui?

Não usamos o termo “ilegal”. Para nós, são todos brasileiros. Temos, sim, uma atuação de assistência consular, voltada aos brasileiros mais necessitados. Há indícios que houve um aumento, não só de brasileiros barrados, mas também de outras nacionalidades. Reflexo do nosso tempo. Respeitamos o governo inglês, assim como o governo brasileiro é respeitado na decisão de aceitar a entrada ou não. Mas isso não quer dizer que não estamos atentos à questão, principalmente a situações de inadmitidos que precisam obedecer um procedimento de retorno ao Brasil. É uma situação desagradável. Os relatos, que não são bons, são levados às autoridades britânicas que sempre nos respondem.

O senhor disse que pretende apoiar projetos culturais voltados à manutenção da língua portuguesa como herança, mas o atual governo do Brasil já deixou claro que cultura não será uma prioridade. Como o senhor pretende atuar?

Não houve mudança alguma na assistência ao brasileiro no exterior. As histórias de dedicação de mães e pais para manter a língua portuguesa me sensibilizaram. O esforço em garantir que os filhos continuem a falar português me emociona. E, sim, o idioma é um código cultural. Agora mesmo tivemos o Livro da Cidadania, sendo impresso com o apoio do Itamaraty, e realizado por alunos de escolas de português. O consulado pode colaborar para viabilizar iniciativas das escolas.

Já tem um pub preferido em Londres?

Sim, um de muito antes, quando eu costumava vir para visitar minha mulher que estudava aqui: The Lansdowne, em Primrose Hill. Falta ainda um carro para desbravar o interior, a costa, ir até a Cornwall, que ainda não conheço.

Como o senhor tem percebido a comunidade brasileira no Reino Unido?

Percebo uma comunidade muito ordeira, com baixo índice de criminalidade em comparação com o número de locais, muito diversificada, atuante nas mais diversas áreas, em especial a de entregas (delivery) e estética. De verdade, é muito bom trabalhar assim.

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