Um brasileiro na polícia londrina

Mario dos Santos fala dos desafios e dá dicas de como entrar na profissão

Mario dos Santos nasceu no interior de Goiás, em Itaberaí, mas cresceu em Goiânia. “Mudei para a capital com um ano e meio e cresci lá”, conta o hoje oficial da polícia de Londres, no Instagram (perfil privado) @brasileiro_na_policia_gringa.

Desde que entrou para a Met Police, em 2016, Mario viveu várias situações-limite, quando precisou paciência para lidar com a ocorrência, habilidade que considera essencial para a profissão.

“Teve uma vez que o vizinho ligou para polícia pois não via a senhora que morava do lado há alguns dias. Eu arrombei a porta e ela estava no chão. Disse que estava lá há alguns dias, estava desidratada e bem magra. Chorou muito e agradeceu demais”, relembra.

Em outra situação, ele precisou atender uma pessoa que foi esfaqueada e ainda estava com a faca no pescoço. “Fui conversando para ele se manter lúcido enquanto aplicava os primeiros socorros até a chegada da ambulância”, conta Mario. “Uma cena bem assustadora.”

Para os valentes como ele, que vislumbram uma carreira na polícia inglesa, Mario dá nesta entrevista algumas dicas importantes.

Notícias em Português – Por que se mudou para Londres?

Mario dos Santos – Vim para Londres pela primeira vez em 1999 com visto de estudante e fiquei até 2000. Depois voltei de novo como estudante em 2004. Escolhi Londres porque não consegui visto para os Estados Unidos. Muitos amigos foram para lá e então decide tentar.

Como entrou na polícia?

Fui policial no Brasil, mas jamais pensei que seria um policial aqui. Em 2012, quando teve as Olimpíadas de Londres, estavam recrutando muitas pessoas. Dei uma olhada nos requisitos, não porque quisesse entrar na polícia, mas queria saber mesmo e fiquei surpreso ao ver que imigrante também podia. Até aquele momento, eu não sabia. Aí fiz a aplicação, mas como meu visto, apesar de ser de residência, tinha uma data de validade, eu não fui aceito.

Em 2013, eu apliquei para a minha cidadania, fiz a minha cidadania e depois eu apliquei de novo para a polícia em 2015. Fiz as provas e não passei de primeira, passei na terceira vez que eu tentei. Em 2016, eu entrei na polícia.

É preciso total fluência do inglês para trabalhar na polícia?

É preciso falar fluentemente o inglês, e também escrever porque na polícia aqui se escreve muito. Tem muita burocracia então precisa dominar o idioma escrito e falado.

Quais os requisitos para ser um bom policial em Londres?

Há vários meios de entrar na polícia hoje em dia, mas todos passam pela universidade. Para ser um bom policial em Londres é preciso ter paciência – requisito para todo policial. Não pode levar para um lado pessoal e ter paciência com as pessoas. A maioria das pessoas com quem você lida está numa situação de stress.

Com quanto tempo de estágio e cursos preparatórios torna-se um policial?

O estágio, na minha época, era de seis meses de aulas e um período probatório de dois anos. Hoje, pelo que sei, são seis meses de aula e três anos de período probatório. Aumentaram em um ano.

Não fiz nenhum curso preparatório antes de ingressar na polícia. Não tem necessidade, pois eles te dão todo apoio necessário antes dos testes. Única coisa que eu fiz foi ler bastante em inglês para praticar a gramática.

Que conselhos daria a um jovem lusodescendente que sonha em ser policial na Inglaterra?

O conselho é tentar. Tenta e ver se você gosta. A carreira policial não é para qualquer um. E mesmo na Inglaterra, onde as leis funcionam, é preciso ter paciência. Então, a melhor forma é começar e ver se é para você ou não. Às vezes você quer mudança, mas você precisa ser a mudança.

O que torna as policias da Inglaterra e do Brasil tão diferentes?

O que tornas as policias do Brasil e da Inglaterra diferentes é a sociedade. Na Inglaterra, a organização social é diferente do Brasil. Os policiais vêm da sociedade e isso torna as polícias diferentes. Não dá para comparar. A única coisa que é igual é que você prende pessoas e leva para o tribunal.

Lembra de algumas situações-limite que tenha enfrentado na profissão?

São muitas. Tenho que pensar um pouco. Teve uma vez que o vizinho ligou para polícia pois já não via a senhora que morava do lado há alguns dias. Eu arrombei a porta e ela estava no chão. Disse que estava lá há alguns dias, estava desidratada e bem magra. Chorou muito e agradeceu demais. Outra vez, atendi uma pessoa que foi esfaqueada e ainda estava com a faca no pescoço. A gente age meio que no automático, fui conversando para ele se manter lúcido enquanto aplicava os primeiros socorros até a chegada da ambulância. Uma cena bem assustadora.

Imagens: Acervo pessoal

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