Desafios e vitórias nos 9 anos da Cultura Cabo Verde/UK
Em junho, a Cultura Cabo Verde/UK completa nove anos de atuação. No dia 12/06, haverá comemoração online, como tem sido todos os meses desde o início da pandemia.
Dessa charity, que se mantém dos eventos que promove e de doações, nasceu a Casa Cabo Verde – um projeto para o convívio e a informação na comunidade que reúne cerca de 1.200 pessoas. Alda Lopes é co-fundadora da Cultura Cabo Verde e uma das mais influentes líderes da comunidade.
Na entrevista com a candidata à prefeitura de Londres Sian Berry (Green Party), organizada pelo jornal Express News e Mês Amigo, Alda perguntou sobre as intenções da candidata para o setor de charity, em especial as pequenas. “Nossa comunidade está dispersa em vários bairros, e não temos um borough como base, o que nos prejudica muito na hora de conseguir apoio”, diz.
Alda vive na Inglaterra há 22 anos. Trabalha como civil servant, no Department for Work and Pensions, e tem três filhos – um rapaz de 36 anos que já não mora com ela e duas jovens garotas (16 e 22 anos), ambas com nacionalidade britânica e fluentes em português.
A seguir, nesta entrevista concedida por telefone, ela nos fala dos desafios da comunidade cabo-verdiana em Londres.
Notícias em Português – Como é passar para as novas gerações a cultura cabo-verdiana quando os jovens crescem inseridos na cultura britânica?
Alda Lopes – Não é fácil porque uma das coisas importantes neste processo é a disciplina. O fator dedicação e compromisso é essencial, por isso percebemos que faz uma grande diferença quando os pais também estão envolvidos com a comunidade. A família é a parte principal.
Quantos cabo-verdianos vivem no Reino Unido?
É muito difícil saber pois a maioria de nós tem passaporte europeu, principalmente o português. Catalogados na Cultura Cabo Verde/UK são 1.200. Somos uma comunidade muito jovem, a maioria de nós reemigrou de países como Portugal e França na crise mundial.
As atividades já estão regularizadas?
Sim. Desde a primeira abertura, voltamos aos encontros físicos, respeitando todos os protocolos. Conseguimos outro community center que tem inclusive mais espaço, nos permitindo mantes os distanciamentos. Depois do dia 21/06, voltaremos com nossas festas da Casa Cabo Verde, que ainda seguem online.
A comunidade tem aderido à campanha de vacinação?
Sim. Agora, acredito que as pessoas já estão mais bem informadas. No começo as fake news chegaram a ser uma preocupação. Havia uma senhora que se identificava como enfermeira, mas depois soubemos que ela é care assistant, que distribuiu fake news, vídeos horríveis disseminando mentiras e isso refletiu em algumas pessoas da comunidade se sentirem céticas. Agora está melhor. Acho também que nossos eventos ajudam a esclarecer.
“Por muitos anos, nosso trabalho será invisível.
Mas se conseguirmos mudar uma única criança, terá valido a pena.”
E quanto ao pedido de permanência pós-Brexit, há adesão?
A comunidade precisa muito de ajuda quanto ao settled status. Temos trabalhado não só informando, como os ajudando a realizar a candidatura. Há muitos que ainda não fizeram, que ainda acreditam que não vai acontecer nada e nós repetimos: vai acontecer sim! São jovens e pessoas com mais idade, famílias com crianças que seguem retardando esse processo.
Como sobrevive a Cultura Cabo Verde/UK?
Não temos representação governamental. Somos uma charity. Em 2013/14, conseguimos apoio do National Lottery Community Fund. Como nossa comunidade está dispersa em vários bairros, e não temos um borough como base, isso nos prejudica muito na hora de conseguir apoio governamental. Nos mantemos com os fundos arrecadados nos eventos e nas atividades e graças à cota que 17 membros pagam.
Que outros serviços de apoio são prestados?
Aconselhamentos sobre os direitos que cada um tem, como acessar ao Universal Credit ou aos subsídios para pagar renta. Ajudamos a fazer registro como self-employed.
Como avalia a comunidade cabo-verdiana em Londres?
Unida não é. São muitas as fragilidades na comunidade. Falta confiar um no outro. Há muito o que percorrer para que nos valorizemos enquanto africanos e negros. Chamo de “mercado da escravatura da civilização” essa falta de confiança que acomete muitos de nós, como se não fôssemos capaz de fazer sem a participação de um europeu. Ou achar que europeu é que faz bem. Precisamos nos libertar dessa mentalidade. Infelizmente, essa é uma visão de mundo que passa de geração a geração.
Mas a comunidade aderiu aos protestos contra racismo.
Sim, mas não sei até que ponto é a conscientização negra por fim prevalecendo ou porque está na moda postar foto do protesto no Facebook.
Deve ser cansativo esse trabalho de mudar pessoas.
Eu digo para os meus colegas: por muitos anos, nosso trabalho será invisível. Mas se conseguirmos mudar uma única criança, terá valido a pena.
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