Situação migratória não é requisito para vacinação

“Tampouco é uma armadilha do governo inglês para identificar irregulares e deportar do país”, garante o cônsul-geral do Brasil

“Não é requisito para vacinação você estar em situação regular neste país”, afirma o cônsul-geral do Brasil em Londres, Tarcísio Costa, que lança um apelo para que os brasileiros façam a inscrição no GP e aceitem a oferta de vacinação. “Não se exigirá comprovação disto para que as pessoas sejam vacinadas. Tampouco é uma armadilha que o governo inglês está preparando para identificar os irregulares e deportar do país”, ressalta.

Nesta entrevista, o cônsul também explica como uma pessoa em situação irregular pode obter um comprovante de residência e reforça a orientação para não viajar neste momento.

Também fala sobre o Census 2021 e a importância da comunidade se identificar por falante de português.

Notícias em Português – Como a comunidade está reagindo ao programa de vacinação?

Tarcísio Costa – Acredito que dependa da condição migratória do expatriado brasileiro. Temos um grupo de alguns milhares de brasileiros que ainda estão em processo de regularização ou em condição irregular. Venceram os seis meses de chegada aqui, após o período de permanência válida para turista e agora se encontram em situação irregular. Neste grupo, a gente sente uma hesitação natural de entrar em contato com o serviço de saúde local. O receio é que essa condição irregular seja identificada. Por isso, esse esforço que estamos fazendo, em coordenação com o Centro de Cidadania, Grupo Mulheres do Brasil e a Casa Brasil, para sensibilizar a comunidade sobre a importância da vacinação. Não é requisito para vacinação você estar em situação regular neste país. Não se exigirá comprovação disto para que as pessoas sejam vacinadas. Tampouco é uma armadilha que o governo inglês está preparando para identificar os irregulares e deportar do país. O interesse é de fato que o programa seja universal. Que todos os nacionais britânicos e todos os estrangeiros que neste momento estão a residir aqui sejam vacinados e por razões óbvias. A ideia é controlar a disseminação do vírus. O programa, naturalmente, não está sob a nossa responsabilidade, e sim das autoridades locais, mas me parece um dever nosso ajudar a proteger e zelar os interesses dos brasileiros.

Tarcisio Costa, cônsul-geral do Brasil em Londres

Há risco ao apresentar o passaporte para fazer a registro no GP que esses dados sejam armazenados?

Não existe. Absolutamente não existe. Não existe autoridade do Home Office que esteja lá para fazer esse tipo de checagem. Cabe a pessoa levar a sua identificação, que no exterior é o passaporte. O comprovante de residência, se formos dar uma olhada na página do NHS, você verá que não é condição para inscrição. Não precisa comprovar residência naquele bairro e naquela área. O que acontece é que cada GP tem um número X de pacientes, para não comprometer o atendimento, e às vezes esse número está no limite e eles solicitam um comprovante de residência para não absorver gente de outro bairro.

Como um brasileiro em situação irregular pode obter um comprovante de residência?

Mesmo se pedirem um comprovante de residência, por exemplo, você pode fazer uma conta no Monzo, esse banco virtual. Muitos brasileiros ainda em situação não regularizada têm essa conta. E isso já é suficiente como comprovante de residência.

O que está em risco é algo importante. Não vamos misturar as coisas. Estamos falando de cuidado com a saúde, proteger a sua vida. Ao fazer isso, o brasileiro não está correndo o risco de deportação se sua situação for irregular.

As viagens entre Brasil e Reino Unido podem ser autorizadas em maio?

Não tenho elementos para dar uma resposta. Eu conheço o cronograma do governo

britânico, mas as datas não são definitivas. Em maio, se prevê a retomada de voos ao exterior. Mas temos essa lista de países considerados de maior risco e o Brasil no momento está nela. Não sei dizer se esses países serão incluídos quando da flexibilização.  Sabemos a situação atual e a nossa recomendação é não viajar. Cada um saberá julgar a urgência da viagem, mas nossa recomendação é: façam o possível para evitar. Primeiro, porque essa é a recomendação das autoridades locais. Segundo, o governo brasileiro adotou medidas de precaução e temos uma variante nova, a chamada variante de Kent, que despertou atenção do governo brasileiro. Já há centenas de pessoas no Brasil contaminadas com essa variante. E também o retorno. Imagine um brasileiro residente aqui que vai para o Brasil vai ter dificuldade no retorno. Vai ter que ir para um hotel, pagar pelo custo de permanência, dos testes, da alimentação. Então, a melhor recomendação é aguarde um pouco. Já passamos um ano e tanto nessa espera, eu sei que todos nós gostaríamos de rever amigos e familiares no Brasil, mas se aguardamos tanto tempo, porque não aguardar mais alguns meses.

Sobre o Census 2021, que começa agora na Inglaterra, o senhor acredita na importância da comunidade se identificar como falante de português?

Ao consulado naturalmente não cabe dar uma orientação sobre o preenchimento do censo. Não é uma iniciativa nossa, mas sim uma medida do governo inglês. Mas eu acho que quanto mais a comunidade brasileira se afirma neste país e esteja organizada, e eu fico feliz de dizer que está cada dia mais organizada, isso é importante. Primeiro para que ela possa ser vista. Existe uma comunidade brasileira residente neste país com um  perfil muito positivo, temos que nos orgulhar. A média de formação é bem mais elevada que outras comunidades brasileiras no exterior. É um grupo empreendedor, que faz coisas, então tem que mostrar a cara, não vejo por que não. É bom que o governo inglês saiba das reivindicações dessa comunidade.

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