Brasileiros londrinos unidos contra o racismo

Da Redação

Imagem: Unsplash

No Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12), a comunidade brasileira foi convocada a protestar. Parte dela compareceu ao ato de denúncia às mortes de pessoas pretas e racismo institucionalizado no Brasil, ocorrido pacificamente em frente à embaixada do Brasil em Londres.

A convocação foi feita pelo grupo Frente Preta UK, criado apenas duas semanas antes do protesto com o intuito de reproduzir na capital britânica o grito de justiça que reverbera no Brasil. “Nasceu do incómodo de tantas notícias ruins recebidas do Brasil”, conta Elda Cardoso, cofundadora do grupo que já tem página de Facebook e Instagram. “A cada 23 minutos, uma pessoa preta é assassinada no Brasil. Isso é um genocídio”, completa.

Elda Cardoso, cofundadora do grupo Frente Preta UK.

Segundo estudo divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança, a população negra é a que mais morre pela polícia, seja em números absolutos ou proporcionalmente. Os dados dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Pernambuco apontam para um racismo institucionalizado.

Na Bahia, 97% dos 650 mortos pela polícia em 2019 eram pretos. Em Pernambuco, 93%.

Elda, que é ativista e estudante de psicologia em Londres, explica o que está acontecendo no Brasil: “Os pretos acordaram, estão se formando (graças ao sistema de cotas , ocupando lugares de destaque em muitas profissões e a resposta das classes dominantes brasileiras é de medo em perder quem os sirva”.

Racismo na Inglaterra

Nascida em Goiânia e há 20 anos em Londres, Elda diz que aqui a população negra está mais segura, embora haja racismo no Reino Unido. “Racismo existe em todo lugar. Aqui, ele é velado e a polícia inglesa não anda armada, o que torna nossa vida mais segura”, conta. “No Brasil, o racismo é institucionalizado e reforçado pelo estado.”

O grupo pretende, agora, levantar debates e chamar atenção da opinião pública inglesa para o que está acontecendo em selo brasileiro. No protesto realizado em Londres, nomes de vítimas de racismo foram destacados em cartazes. A expressão “bala perdida”, que ganhou popularidade no Brasil para explicar mortes de pessoas que sequer eram alvo da polícia, também é questionada.

Desde a capital inglesa, o grupo tenta ajudar os compatriotas como podem. “Temos prestado apoio, inclusive financeiro, a Mirtes Renata Souza, mãe do menino Miguel Otávio que morreu em junho, ao cair do nono andar de um edifício de luxo no Recife. A patroa de Mirtes, Sari Corte Real, estava responsável em cuidar da criança enquanto a empregado doméstica passeava com os cachorros. Sari é acusada de negligência, ao deixar o garoto de apenas 5 anos sozinho no elevador do edifício, chegou a ser presa em flagrante, mas aguarda julgamento em liberdade.

“Mirtes perdeu o filho, o emprego e mesmo a fonte de renda temporária, já que precisou parar de vender bolos na rua por causa da pandemia”, diz Elda. “Tentamos dar suporte a ela como possível.”

Mirtes, que tinha planos de estudar administração à distância para ficar perto de Miguel, acaba de se matricular na faculdade de direito. As aulas começam em 2021. Ela também está trabalhando em uma organização não-governamental no Recife.

Na primeira audiência de julgamento do caso Miguel, no dia 3/12, Sari sequer chegou a ser ouvida.

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