O início do fim do Little Portugal em Londres
(LONDRES) Por Guilherme Rosa – O Little Portugal, para quem não sabe, é um conceito de existir um bairro virtual Português, sobre imposto na zona de Stockwell e áreas vizinhas (Larkhall, Oval, Vassal, Clapham Town e início de Brixton), tendo provavelmente uma população de 10 mil (4 mil em Stockwell). A parte visível desta agregação social é a existência de uma concentração atípica de cafés, delis e restaurantes de índole portuguesa. Serve este espaço como que o centro da Comunidade Portuguesa do SW de Londres, pois é zona muito visitada ao fim de semana, para compras, convivência e também participação em eventos recreativos. Porém toda esta animada vivência portuguesa, passa-se na Zona 1 de Londres, um facto que se tem tornado aniquilador desta peculiar concentração lusitana. Mesmo ao lado do rio e muito próximo desta zona nasce um desenvolvimento urbano do mesmo nível regenerador que o projecto da Expo 98 teve para Lisboa (8 biliões de orçamento, uma nova cidade para 50 mil), com nova estação de metrô.
Mesmo à entrada da Wilcox Road, um dos cantos deste Little Portugal tenho constatado que alguns negócios já fecharam, seja pela incapacidade de pagar uma renda na Zona 1, seja por a esperada clientela acabar, por não aparecer, talvez também pelo facto das regras de como operar sejam complicadas e difíceis de cumprir. Quais as razões a não atingirem a almejada viabilidade empresarial? São negócios demasiadamente focados somente no client Português, pouco receptivos ou amigáveis para outro tipo de clientela, ou seja, restantes residentes locais.
Outro factor é este hábito nosso de copiar o sucesso dos outros, pois vê-se muito negócio aberto onde já ha boa oferta lusitana, sem uma preparação ou plano empresarial credível, sem apostarem na qualidade e serviço focalizado (Pelo menos amigável) nos britânicos, critério essencial para negócios na Zona 1 operarem e sobreviverem. Existe hoje em dia um movimento social, trata-se dos jovens que se identificam como Hipsters, uma nova “tribo urbana” constituída por jovens profissionais, muitos têm vindo para Lambeth residir aqui recentemente, aumentando muito a concorrência por espaços habitacionais.
Mas o pior é que esta nova tribo urbana preferencialmente frequenta os locais que consideram cool e Hipster friendly, algo que os espaços Portugueses não podem oferecer. Daí que esta nova vaga de residentes jovens dinâmicos também não frequentam os nossos espaços. Desta forma espaços portugueses algo moribundos são cobiçados para espaços com este enquadramento empresarial, servindo os novos vizinhos Hipsters, espaços esses que rapidamente se tornam casos de sucesso.
Também a afluência de novos residentes ricos, que vão residir nesta nova cidade em torno da Battersea Power Station e Nine Elms não ajuda a sobrevivência do nosso comércio, já que vão frequentar delis de luxo, restaurantes de grande qualidade e caros. Seria necessário um trabalho profundo junto desta comunidade empresarial para se conseguirem adaptar a estas novas circunstâncias económicas e assim poderem sobreviver, mas se nos nem conseguimos ter uma federação de negócios funcional e activa, falta a base para se poder erguer a obra.
Da parte da autoridade local que represento o esforço de mitigar o impacto negativo de todas estas mudanças para com este tipo de residentes empresariais seria bom trabalho camarário. Idealizei que um trabalho de ajudar alguns dos comércios a se relocalizarem para áreas próximas de onde nós estamos a sedentarizar, dando a estes negócios uma segunda nova oportunidade de melhorar e sobreviver, ou seja, por causa do fenómeno que é a gentrificação.
O novo Little Portugal é agora em West Norwood, e esta zona serve de centro simbólico para todos os que foram viver para Croydon, Crystal Palace, Thorthon Heath e Norbury. É pena esta concentração em Stockwell estar a começar a desaparecer desta forma, já ouvi alguns residentes veteranos britânicos locais afirmar que a esta zona era das piores em termos de criminalidade no passado, foi pacificada aquando da nossa vinda para aqui, muito por causa da nossa pacata e familiar forma de viver.
Agora este intensivo e favorecido mega desenvolvimento de Nine Elms está a ter a consequência de nos fazer desaparecer da zona, ou seja, a nossa pacatez que ajudou inicialmente no nosso estabelecimento vai no seu final ser o golpe de machado que acabar a por tornar inviável a presença duradoura do Little Portugal em Stockwell. É possível que em 10 anos esta rua tenha imensos Stockwell Continentals vocacionados para servir Hipsters e não Tugas e uma ou outra referência gastronómica comercial nossa por parte dos negócios mais aptos e de sucesso (Na rua ha 2/3 casos óbvios) para que se possa manter a memória do que esta rua significou para nós.
A realidade é que esta concentração de esforços por parte de todos os empresários, que pudesse dar possibilidades de se vencer esta batalha de oferta comercial está longe de acontecer, pelo que vejo é o inicio do fim, e agora uma crua realidade para nós que frequentam a zona.
Obrigado por esta reflexão
Excelente trabalho ANGEL CRUZ! Como vejo que sabe bem o que diz, confesso que gostaria de (co-)liderar um movimento de renovação de forças, expressões e talentos com um programa de efeitos tão práticos quantos imediatos baseado 1. numa metologia profissional de sucesso; 2. em exemplos reais de sucesso; 3. e muito fundamentalmente, na formação para a mudança sustentável.
Sou coach profissional para a área pessoal e empresarial e vivi uma década em Londres, pelo que reconheço cada afirmação sua!