AINDA ESTOU AQUI, PRÉ-SELECIONADO AO OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO
O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, é inspirado na obra do renomado autor brasileiro Rubem Paulo. A narrativa cinematográfica se baseia na rica temática presente nos escritos de Rubem, que frequentemente exploram questões profundas da identidade, da memória e das relações humanas. A conexão com a obra de Rubem não apenas enriquece a trama do filme, mas também proporciona uma reflexão sobre a experiência brasileira em suas múltiplas facetas.
A obra de Rubem é marcada por uma sensibilidade única, abordando a complexidade das emoções humanas e a busca por significado em meio às adversidades da vida. Em “Ainda Estou Aqui”, essa sensibilidade é traduzida em uma história que acompanha a jornada de um jovem que retorna à sua cidade natal após a morte do pai. O filme explora a saudade e a reconexão com as raízes, temas que estão profundamente presentes nas obras de Rubem. A adaptação para o cinema permite que o público vivencie a profundidade das questões levantadas por Rubem de uma maneira visual e emocionalmente impactante.
© Miranda Filho
A direção de Salles, conhecida por sua habilidade em contar histórias que tocam o coração, traz vida a esses temas, estabelecendo um diálogo entre a literatura e o cinema. A experiência cinematográfica se torna, assim, uma homenagem à obra de Rubem, ao mesmo tempo em que a torna acessível a uma nova audiência. O filme não apenas reflete sobre a trajetória pessoal do protagonista, mas também serve como um espelho para a sociedade brasileira, levantando questões sobre pertencimento, perda e a busca por identidade em um mundo em constante mudança. Essa intersecção entre a literatura de Rubem e a cinematografia de Salles cria um espaço para a reflexão sobre a condição humana, tornando “Ainda Estou Aqui” uma obra relevante e significativa no panorama cultural contemporâneo.
A influência de Rubem Paulo na construção da narrativa do filme é evidente, e isso se reflete na profundidade emocional dos personagens e nas situações que enfrentam. O público é convidado a mergulhar em uma história que, embora particular, ressoa universalmente, evocando sentimentos que todos nós podemos reconhecer e compreender. Assim, “Ainda Estou Aqui” emerge não apenas como uma adaptação, mas como uma nova interpretação da obra de Rubem, revitalizando suas ideias e temas para novas gerações.
Marcelo Rubens Paiva, filho do político e engenheiro Rubens Beyrodt Paiva, carrega uma história familiar marcada pela tragédia e pela luta pela verdade. Rubens, nascido em Santos em 26 de dezembro de 1929, teve sua vida interrompida de maneira brutal durante a ditadura militar brasileira. Formado em engenharia, destacou-se na política ao ser eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1962. Contudo, a partir do golpe militar de 1964, sua trajetória sofreu um drástico revés. Ele foi cassado pelo primeiro Ato Institucional e, diante da repressão, optou pelo autoexílio. Após retornar ao Brasil, Rubens retomou sua carreira na engenharia e gerenciou negócios, mas não abandonou o compromisso com a democracia e os direitos humanos, mantendo contato com exilados políticos. Em 1971, a repressão militar o prendeu, suspeitando de suas ligações com o guerrilheiro Carlos Lamarca. Durante seu tempo de prisão, Rubens foi submetido a torturas severas e, tragicamente, foi assassinado em um quartel militar.
A história de Rubens Paiva não se findou com sua morte. Seu corpo foi desenterrado várias vezes por agentes da repressão, e em 1973, seus restos mortais foram jogados ao mar na costa do Rio de Janeiro. Sua viúva, Eunice Paiva, se tornou uma incansável defensora da verdade, lutando pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado pela morte de seu marido. O caso foi investigado pela Comissão Nacional da Verdade, que, após 40 anos, confirmou o assassinato de Rubens. Marcelo, como filho de um homem que foi vítima da brutalidade do regime, encontrou na história de seu pai uma fonte de inspiração. Ele escreveu um livro que narra a trajetória de Rubens, trabalho que foi posteriormente adaptado para o cinema, garantindo que a memória de seu pai e a luta por justiça continuem a ser contadas e lembradas. A obra de Marcelo não apenas perpetua a memória de Rubens, mas também serve como um testemunho das atrocidades cometidas durante um período obscuro da história do Brasil.