Tráfico de seres humanos. Do sonho de futebol à intuições de acolhimento
Aproximadamente 30 jovens adultos abandonaram hoje uma escola de futebol em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão, cidades portuguesas que estão no centro de uma investigação por alegado tráfico de seres humanos, de acordo com fontes do SEF – Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
Segundo informações fornecidas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) à agência Lusa, inicialmente esses jovens haviam decidido permanecer na academia, mas mudaram de ideia posteriormente.
“Ao perceberem que o SEF era o único contato com que contavam, eles entraram em contato com a instituição buscando apoio logístico para saírem da academia, e isso foi realizado no final da tarde”, acrescentou a fonte. Os jovens foram retirados da academia em ambulâncias e foram transportados para instituições de acolhimento.
Na segunda-feira, o SEF realizou cinco mandados de busca judiciais como parte de uma investigação sobre tráfico de seres humanos, sendo que um deles foi executado na academia de futebol Bsports em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão.
Um total de 47 vítimas de tráfico de pessoas foi identificado, sendo 36 menores de idade e nove jovens adultos. Dois dos menores foram entregues a familiares, enquanto um terceiro foi entregue ao seu representante legal. Todos os outros foram colocados sob proteção do Estado português.
No total, foram identificados 85 estrangeiros, entre adultos e menores. As buscas também se estenderam à residência do presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Mário Costa, que é responsável por essa academia.
Mário Costa renunciou ao cargo na Liga na quarta-feira. Durante as buscas, o SEF apreendeu documentos, como passaportes e cartões de residência, que estavam em posse de terceiros, e não dos seus titulares, no caso, os menores envolvidos.
Dois cidadãos portugueses (Mário Costa e seu pai) e cinco empresas foram constituídos arguidos no caso. Em comunicado publicado em sua página, a Procuradoria-Geral Regional do Porto informou que os menores foram retirados da academia por estarem em situação de perigo.
Segundo informações da RTP, os jovens atletas eram recrutados na América do Sul, África e Ásia e trazidos para Portugal com a promessa de um contrato de 11 meses. Eles seriam impedidos de sair caso seus pais quisessem interromper sua formação ou não pagassem as taxas previstas.
As famílias pagavam entre 500 e 1.800 euros por mês para a formação, treinamento e acomodação dos jovens atletas. Relatos indicam que os atletas viviam em condições precárias, sofrendo com fome e frio. O Jornal de Notícias menciona relatos de atletas que teriam sido trancados com cadeados durante a noite, sem acesso a banheiros.
Os jovens estavam amontoados em camaratas, só podiam sair acompanhados por funcionários da academia, e seu acesso ao exterior era limitado.
Fonte: Agência Lusa