Procuradores dizem que crise dos ianomâmis é resultado de esquema de corrupção

Procuradores do MP de Roraima afirmam: crise na saúde dos yanomamis é resultado de esquema de desvio e ausência de medicamentos

Por: Correio Braziliense

“Esses distritos, por terem orçamentos grandes, são assediados e a nomeação é feita pelo Ministério da Saúde. Havia políticos que nomeavam os coordenadores de saúde e loteavam cargos-chaves para manipular as licitações. Há uma organização criminosa”, acusou Marugal.

Os DSEIs são subordinados, no Ministério da Saúde, à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que no governo do presidente Jair Bolsonaro foi coordenada por dois militares. Segundo Marugal, o esquema, se não tinha o poder de enriquecer os agentes, em contrapartida impacta profundamente as comunidades, pois afeta o recebimento de medicamentos básicos em distritos de áreas isoladas de Roraima.

“Eles (os gestores públicos) sabiam da crise de desnutrição, mas, mesmo assim, engendraram um esquema de corrupção com os medicamentos. Não era grande o lucro em dinheiro — gerava cerca de R$ 3 milhões. Mas me chocou profundamente a insensibilidade por desviarem tão pouco e causarem uma crise tão grande”, afirmou Marugal.

As investigações da corrupção em Roraima levaram o MPF a recomendar uma intervenção no setor que cuida da saúde indígena no Ministério da Saúde, mas a ideia não foi levada adiante. “Deveríamos discutir, junto com a Funai e a sociedade civil liderando, uma grande solução para a situação de emergência pública. Mas encontramos muita resistência na Sesai para medidas que pudessem dar visibilidade para a gravidade do que, de fato, aconteceu com os yanomamis, que muito provavelmente é um crime”, observou.

Segundo o procurador, a primeira etapa da Operação Yoasi, realizada no ano passado, investigou a falta de medicamentos que constam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) junto aos pólos-base da terra yanomami e à Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista. A apuração conjunta com a Polícia Federal (PF) afastou os gestores que deixavam faltar remédios básicos nos postos de saúde e deixavam de punir fornecedores que não repunham os estoques.

O MP-RR acredita, porém, que o aprofundamento da investigação levantará mais pessoas envolvidas com os desvios. “Existe um grande conluio, um grande loteamento político desses distritos”, apontou Marugal.

Visita a garimpo

O governo Bolsonaro tornou-se alvo de um inquérito da PF requerido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O documento não cita nomes, mas faz menções à gestão do ex-presidente e ainda se refere a uma viagem que ele fizera a um garimpo ilegal que funcionava na terra dos ianomâmis.

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