Priscila (brasileira) paramédica de Londres

Priscila Currie é brasileira do Rio de Janeiro mais conhecida como Priscila paramédica de Londres. Na Inglaterra há 20 anos, ela tem mais de 100 mil seguidores nas redes sociais (no Instagram @priscila_paramedica_londres) onde apresenta uma parte da sua rotina como integrante de uma equipe de emergência. Na entrevista a seguir, ela conta mais sobre sua trajetória profissional e explica o sucesso que faz na internet.

Notícias em Português – Por que decidiu ser paramédica em Londres?

Priscila Currie – Eu tinha seis ou sete anos quando disse para o meu pai que queria ser médica. Meu pai é médico, minha mãe é psicóloga, e eu sempre gostei da profissão dos dois. Quando eu vim para Inglaterra para aprender inglês, procurei entender quem trabalha em uma ambulância e me apaixonei pelo trabalho do paramédico. Soube ali que era aquilo que eu queria fazer na vida. Foi um divisor de águas. Era para ser.

Não existe o paramédico no Brasil. Existe o socorrista, que é um técnico. No Brasil não existe a faculdade de paramedicina, que forma não um médico, porque a faculdade de medicina é mais longa e abrange mais coisas. O paramédico é especialista em medicina pré-hospitalar. Aqui não tem médico na ambulância, mas sim paramédicos.

Como se torna paramédico em Londres?

Precisa fazer uma universidade. Aqui, independente do seu passaporte, você precisa estar vivendo no país por pelo menos três anos para se matricular numa universidade pagando os valores referentes a um residente e não um aluno estrangeiro – taxas muito mais altas. Por isso, precisei esperar três anos para começar a estudar. Eu cheguei aqui com 20 anos, mas só comecei na universidade com 29 anos.

Eu trabalho para o London Ambulance Service desde 2014. Para se tornar paramédica são três anos de faculdade e dois anos de internato.

Como ter sucesso na vida acadêmica em uma língua estrangeira?

Eu era a única brasileira da minha faculdade. Aliás, eu era a única pessoa da faculdade que não tinha o inglês como língua materna. Eu tive dificuldade por causa disso, mas consegui por perseverança. Procurava os professores e dizia por favor, eu não estou entendo porque em português é diferente, você pode me explicar de outro jeito? Quando você expõe uma fraqueza, vai encontrar ajuda. O importante é falar. Isso sempre me ajudou porque eu nunca tive vergonha de falar errado.

Já precisou falar em português durante um atendimento de emergência?

Sim, já atendi brasileiros. Quando percebo que falam português, claro tento ajudar usando o meu idioma. Traduzo para os parentes se necessário. Mas eu não me identifico como brasileira se não houver necessidade para tal porque já aconteceu de eu ajudar o paciente traduzindo ao português, e o paciente depois me adicionou no Facebook, tentou um contato, como se falando o idioma rompesse essa barreira de profissional clínico e paciente. Isso me deixou muito desconfortável e aconteceu mais de uma vez.

Pode citar um momento marcante em sua carreira?

Tenho muitas memórias boas e ruins. Trabalhar nessa pandemia foi a memória mais recente. Como você pode imaginar, a morte faz parte da rotina, assim como partos. Em média, eu lido com duas mortes por semana, fazendo três a quatro plantões de 12 horas por semana. No pico da pandemia, lidava com cinco mortes diárias. Isso foi muito marcante. Nada pode preparar um profissional da saúde para lidar com tantas mortes diárias, usando aquelas roupas de plástico, aquelas máscaras, parecia que eu estava vivendo um filme de ficção científica. Para todos nós, a pandemia ficará marcada. Não existem palavras para descrever o desespero que foi trabalhar no pico da pandemia. Todos nós estamos traumatizados, alguns fazendo terapia, espero que eu nunca precise fazer aquilo de novo.

Do lado positivo, eu adoro trabalhar em partos. Lembro de uma paciente que estava indo com o marido para a maternidade, em trabalho de parto, e aconteceu um pequeno acidente e eles não puderam continuar. Era o quinto ou sexto filho dela. Estava chovendo. Eu em um carro pequeno, coloquei-a no banco da frente porque não há banco traseiro e ela gritou “está saindo”. Só deu tempo eu agarrar o bebê, fui uma goleira. Ele nasceu com o cordão em volta do pescoço, tive que fazer manobras e a criança chorou em seguida. Foi lindo e marcante.

Você tem mais de 100 mil seguidores nas redes socais. O que acha que chama tanto atenção em sua vida?

Ah meus seguidores nas mídias sociais, o que faria sem eles? Eles foram meus confidentes durante a pandemia. Eu tenho quase 70 mil seguidores no Facebook e mais de 30 mil no Instagram. Um dos meus vídeo sobre a pandemia “viralizou” e eu segui fazendo outros vídeos alertando sobre o coronavírus e a chegada do vírus no Brasil. Eu fazia vídeos diários. E também estou sempre lutando contra as fake news, em favor da ciência comprovada. Mas também tenho muitos haters por eu ser a favor das vacinas, do uso das máscaras. Já fui acusada de receber propinas para defender as vacinas, o que não é verdade. Já recusei ofertas de patrocínio muito boas, porque os valores da empresa não eram os meus valores.

O que mais gosta e o que menos gosta da vida em Londres?

O que eu mais gosto é a diversidade. Você encontra tudo: comida, pesquisa, festas, eventos culturais. Amo a facilidade de fazer coisas incríveis! O que eu não gosto em Londres é o clima. É uma cidade extremamente cara e onde as pessoas trabalham demais, 50 a 60 horas por semana. Eu sou do Rio de Janeiro e no Rio as pessoas vão à praia, no quiosque depois do trabalho e têm mais equilíbrio entre trabalho e lazer. Também não gosto do quanto as pessoas bebem aqui.

O que diria a quem tem vontade de trabalhar como paramédico em Londres?

Tem que ter toda a documentação porque você vai precisar na hora de se matricular na faculdade. Entrar como estudante estrangeiro, eu não recomendo porque é muito caro. Inglês é fundamental, nível fluente acadêmico. Você vai precisar fazer um teste de Cambridge ou Oxford. Há vários critérios para entrar na faculdade. Mas se você quer ser paramédico em Londres, e esse é o seu sonho, me manda mensagem lá no Instagram que eu te dou umas dicas.

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